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7 de nov. de 2009

A Santidade ao Alcançe de Todos


A SANTIDADE AO ALCANCE DE TODOS
Heriberto Monroy, OCD

Atualmente fala-se muito sobre espiritualidade, formas e métodos de oração. Muitos segmentos de nossa sociedade, em meio ao consumismo e ao materialismo, buscam preencher o vazio existencial com métodos orientais de meditação e exercícios mentais. Trata-se de um impulso do homem moderno que busca “transcender-se”, “buscar Deus”, de forma nem sempre correta e simples.

Santa Teresinha do Menino Jesus viveu a espiritualidade mais simples, aquela que nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo nos Evangelhos: “deixem que os pequenos venham a Mim e não se lhes proíbam, porque deles é o reino dos céus”(Mt 19,14). Ela viveu uma vida muito simples, mas de grande santidade. A palavra “santidade” nos soa hoje como algo do passado ou que interesse apenas às monjas. Dizer “eu quero ser santo” não agrada aos ouvidos, pode parecer loucura ou presunção. Mas, sem dúvida, todos somos chamados à ‘santidade’. Poderemos nos perguntar, mas como posso ser santo neste mundo, neste estado de vida que escolhemos, na vida matrimonial, na vida familiar, no trabalho, na vida cotidiana? Em que consiste a santidade?

Santa Teresinha nasceu em Alençon, Franca, no dia 2 de janeiro de 1873. Foi batizada com o nome de Maria Francisca Teresa Martin. Seus pais Luís Martin e Zélia Martin, quando jovens aspiraram ingressar na vida religiosa, mas Deus tinha outros planos para eles: formar uma família verdadeiramente cristã. De fato, suas cinco filhas ingressaram na vida religiosa: Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa. Leônia ingressou no Convento da Visitação e as outras no Carmelo Descalço.

Teresinha ficou órfã de mãe aos três anos de idade. Suas irmãs se encarregaram de sua educação e formação cristã. Este é um exemplo de como a formação dos pais é tão importante na geração de bons cristãos.

Teresinha viveu uma infância muito feliz, de modo especial por ser a “predileta” de seu pai. Teve também momentos difíceis, como a longa enfermidade que não pôde ser bem compreendida pelos médicos da época. Teresinha foi curada milagrosamente ao contemplar uma pequena imagem da Virgem Maria cujo semblante se transformou e resplandeceu uma surpreendente formosura. Teresinha nos conta que Nossa Senhora respirava bondade e ternura inefáveis. Mas o que atingiu o mais íntimo de sua alma foi o sorriso encantador da Santíssima Virgem. A partir de então foi curada de sua terrível enfermidade.

Aos 14 anos, mergulhada num mar de escrúpulos, e depois de pedir insistentemente a Jesus que a curasse, recupera a saúde numa noite de Natal. Ela chamará esta graça de “a graça do Natal”.
Logo após esta cura recebe de Deus o chamado para o Carmelo. Ela não quer duvidar, mas pede a Deus que confirme o seu desejo. Deus lhe dá o sinal que é um pedido e confirmação de sua vocação. Ele a deseja na vida religiosa, para que ofereça suas orações e sofrimentos para a conversão dos pecadores.

Teresinha pede a Deus a conversão para um criminoso condenado à morte que não apresentava nenhum sinal de arrependimento. Deus escuta e responde às preces de Teresinha. No último momento, prestes a ser executado, o homem se aproxima do crucifixo que antes havia repelido, beija-o e pede perdão a Deus.

Através desta prova ela não mais duvidará que Deus a chama para o Carmelo, para onde vai, segundo seu próprio testemunho, “salvar almas e rezar especialmente pelos sacerdotes”.


Devido à sua pouca idade (quinze anos), negam-lhe a entrada no Convento. Porém, cheia de amor a Deus, visita o bispo que lhe nega o ingresso no Carmelo. Mas ela viaja a Roma com seu pai para falar com o Papa Leão XIII, que lhe diz: “Será feito o que Deus quiser”. Ao regressar a Lisieux encontra as permissões solicitadas e entra no Carmelo Descalço no dia 9 de abril de 1888.

Sua vida no Carmelo foi de um imenso amor a Deus através de uma vida de grande simplicidade, humildade, amabilidade e capacidade de serviço para com suas companheiras, especialmente com aqueles que não a tratavam bem. Em seus escritos ela nos diz: “desde o princípio encontrei mais espinhos que rosas, o sofrimento me abriu os braços e eu o aceitei com amor”.

Sofreu diversas provações espirituais e começa o calvário de sua enfermidade (tuberculose) no dia 3 de abril de 1896, em uma Sexta-feira santa. Enfermidade que a irá aniquilando por um ano e meio, mas que a fortalecerá sua vontade e seu amor a Deus, levando-a a aceitar sua dor com paciência e amor, pela salvação das almas.

No dia 30 de setembro de 1897, pelas sete e vinte da noite, morre Santa Teresinha depois de uma agonia de dois dias. Suas últimas palavras, depois de aceitar prosseguir sofrendo pela salvação das almas, foram: “Eu vos amo, meu Deus, eu vos amo!” Depois de proferir estas palavras, tocaram-se os sinos e a comunidade se reuniu para testemunhar o êxtase da santa moribunda.

As “Últimas Palavras” nos relatam: “Seu rosto recobrou a cor que possuía quando gozava de plena saúde, seus olhos estavam fixos para o alto, refulgentes de paz e alegria. Fazia certos movimentos com a cabeça como se alguém a houvesse ferido com uma flecha de amor e logo retirava a flecha para voltar a feri-la de novo. Irmã Maria da Eucaristia aproximou uma vela para ver de perto seu sublime olhar. Suas pupilas, à luz da vela, não apresentavam nenhuma reação. Ela prosseguia olhando para o alto e sorrindo... e depois exalou o último suspiro conservando seu sorriso”.


Muitos poderão se perguntar: o que terá a nos ensinar uma monja que morreu aos vinte e quatro anos. Eu diria: muita coisa! Seus ensinamentos revolucionaram a Igreja de seu tempo e essa revolução continua ocorrendo. Muitos religiosos e sacerdotes devem-lhe a vocação; muitos jovens solteiros e casais encontram nela um exemplo para viver sua vida cristã com humildade, simplicidade e sobretudo com um imenso amor e confiança em Deus.

Como Santa Teresinha se tornou padroeira das Missões se nunca saiu do seu Convento? muitos poderão questionar. Porque ela valorizou a oração e o sacrifício oferecidos a Deus para o bem dos outros. Esta é a razão de ser da vocação à Vida Contemplativa: viver em amorosa e constante intimidade com Deus. Quero usar uma comparação para esclarecer o que é a Vida Contemplativa.

Ela é com uma boa mãe que por amor a seu filho enfermo fica em casa cuidando dele, não tendo para essa mãe nenhum valor as festas e compromissos sociais, porque o amor é mais forte. Na vida Contemplativa, a pessoa acompanha Jesus constantemente, se não abatido por alguma enfermidade, ao menos sedento de amor, pedindo-nos amor pelo muito que nos ama e a quem só retribuímos com desprezo e ingratidões. Esta foi a queixa de amor que Nosso Senhor Jesus Cristo fez a Santa Margarida Maria de Alacoque quando lhe mostrou seu Sagrado Coração. A mesma queixa de amor ele prossegue nos fazendo hoje.

Os pilares que sustentam a doutrina de Santa Teresinha são o Amor e a Confiança em Deus. A maior graça de sua vida foi compreender a Misericórdia de Deus para com os pequenos e pobres, porque são com os que mais acolhem a Deus. Ela nos dá exemplo de sua simplicidade na vida de oração, com confiança total e absoluta em Deus. Confiar e crer em Deus era para ela, esperar contra toda esperança sabendo que é Deus quem nos faz perfeitos não por nossas próprias obras ou méritos, mas porque nos deixamos guiar por Ele.

Ela encontrou e definiu sua missão na Igreja e nos diz: “minha vocação, finalmente a encontrei.... MINHA VOCAÇÃO É O AMOR. Sim, eu encontrei meu lugar na Igreja e foste tu, Deus, quem me deste este lugar. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o AMOR”.

Como Santa Teresinha, cada um tem uma missão na Igreja, no povo de Deus. Ele mesmo nos escolheu para tal missão e nos dotou de capacidades e aptidões para tanto. Deus não nos envia à guerra sem armas!

Santa Teresinha iniciou sua missão na terra oferecendo sua oração e sacrifício para salvar almas. Ela esta convicta que após sua morte continuaria trabalhando para a nossa salvação. Ela escreveu: “Quando eu morrer, minha missão começará. Farei cair sobre a terra uma chuva de rosas (de graças) sobre todas as almas, para que amem e façam amar a Deus”.

A chama Viva de Amor


São João da Cruz
A chama Viva de Amor

1452 - 1591



Homem de pequena estatura, mas com um coração simplesmente imenso. Cantou a natureza, a fé, a eternidade e também o sofrimento sempre que permitiram a união com Deus. Ágil como pássaro solitário o seu voo foi sempre para Deus, num voo de peregrino convicto, de sábio humilde, de amigo do silêncio, que viveu desposando apaixonadamente a Cruz de Cristo na sua vida!
Quanto mais o lemos, mais descobrimos neste homem pequenino um contemplativo de olhar sereno enamorado por Deus, como se já em vida saboreasse a glória dos eleitos.Que amável caminho nos propõe este místico! Um caminho interior no qual a alma se despoja de tudo, para se encontrar no infinito oceano de Deus.
Um caminho em que nos vamos calando diante do grande mistério de Deus, tocados e abraçados pela Presença que nos devolve confiança e serenidade.A vida de São João da Cruz é cristalina e luminosa, e por isso o seu conhecimento estimula o ritmo da nossa. A força que dela emana anima-nos a amar o Amor, ainda que tenhamos de confrontar-nos com as sombras, o medo, a noite, as renúncias e as subidas íngremes.A Chama de Amor guiou-o e inspirou-o, pelo que a sua doutrina permanece viva e actual! O seu mundo espiritual povoa e cativa quem se deixa enamorar por Deus, guiado pela sua mão de mestre. Pela sua mão vai-se para o centro, porque o Amor gosta de viver no centro do centro.
Aí vive Deus Amor que habitou o Santo e quer fazer morada em nós.Conhecer São João da Cruz obriga a enraizarmo-nos nas suas palavras sempre belas e cheias de Deus, como estas: «Fomos criados para o amor»! É nesta máxima que muitas vezes me quero centrar, porque reconheço nela uma mola impulsionadora de vida, um caminho de luz que silencia corações caminhantes…A luz que brota desta frase desinstala e conforta em profunda e harmoniosa unidade com o mundo e com Deus.
Leva ao enamoramento de Deus, tal como se enamorou de nós. E obriga a aperfeiçoar e a limar a alma, tal como ele nos aconselha; e obriga a lavar todas as sujidades que encontrarmos no nosso caminho interior, para que o amor que amamos seja o amor de Deus em nós.Deixar-se guiar pelo mestre é um permanecer sólido e vibrante no encontro com os seus ensinamentos, é cavar o nosso interior em silêncios de inacabada procura.
Tal busca só é possível se confiadamente deitarmos pés ao caminho, porque a subida é difícil. Porém, lermo-nos em São João da Cruz é fazer caminho com ele e só terminar na casa do olhar de Deus.Celebrar a memória de São João da Cruz é a possibilidade de apreender a procurar o caminho certo e estreito, pelo qual a alma se acerca mais directamente a Deus. A sua experiência e o seu caminho espiritual são dicionário fecundo para o nosso encontro com Deus pelo qual Ele se revela.
É convite ao abandono a deixarmos que o Amor nos leve às alturas da contemplação, a buscar o encontro com o Amado. Quem melhor que ele fala da união com Deus? Uma união que tem de ser dolorosamente buscada na fé e na esperança? Mas no fim vence quem ama! É esta vitória que devemos querer nas nossas vidas!A vitória de São João da Cruz recorda-nos que a bagagem que trazemos, se não for divina deve ser rejeitada, num despojamento libertador de todas as dependências. Os estorvos devem ser rejeitados para que Deus possa preencher a nossa vida com a Sua presença feita de pequenos detalhes e de pequenos nadas que nem sempre sabemos ver.
Não procures mais, perde-te n´Ele, que Ele está em ti! Faz como São João da Cruz, oferece‑Lhe os sofrimentos e os teus nadas, e não te vanglories… Na pequenez da vida está a plenitude de Deus.Neste homem o coração ardeu em fogo de amor, porque não arderia o teu? Hoje flamejam os seus deliciosos ensinamentos, que continuam a seduzir-nos porque são de Deus e nos atraem para o convívio do amor.Vai. Segue o caminho iniciado no Baptismo: Despoja-te de tudo para que Deus se agrade de ti, tal como se agradou e sentiu bem na vida de São João da Cruz!
Ó que belo projeto!

FUNDAMENTO BÁSICO: ABANDONO ABSOLUTO À PROVIDÊNCIA


FUNDAMENTO BÁSICO: ABANDONO ABSOLUTO À PROVIDÊNCIA

A medula do conselho da pobreza, dado por Cristo a seus Apóstolos, consiste em entregar-se incondicionalmente à Providência divina, sem inquietação e com absoluta confiança (Cf Mt 6, 25-33) Para Teresa, este texto do Evangelho fundamenta a sua maneira de entender a pobreza (Cf R 1,21; C2,2; CE 61,1 e Cons 2,1)


Fundamento da atitude de abandono


Tudo pertence a Deus e tudo vem dele. Ele é o Senhor das rendas e dos rendeiros; por isso, tudo o que recebemos, dele recebemos. Por isso também, a nossa gratidão aos nossos benfeitores, mas, sobretudo, a Ele que é o nosso Benfeitor por excelência.

. Deus nos dá tudo aquilo de que precisamos. Isto se fundamenta no que Santa Teresinha chamará com a maior simplicidade “a maneira de ser de Deus”.

Seu amor. Todo o pensamento da Santa está profundamente impregnado da idéia da solicitude infinita do Criador por todas as suas criaturas e muito particular por aquelas, que, como as carmelitas, não têm outro desejo que o “buscar o Reino de Deus e sua justiça” cumprindo em tudo a vontade de seu Filho. Teresa atribui a Cristo – o mesmo papel do Pai – . Não é Ele o seu Esposo por cujo serviço abandonaram tudo: pais, riquezas, honras, amigos? “Olhos em vosso esposo; Ele vos há de sustentar” (C 2, 1)


Sua sabedoria. Sendo Ele a “Sabedoria mesma” (V 27,14), sabe melhor que nós o ‘que nos é necessário (CV 17,7), e os meios mais convenientes para nos dar aquilo de que precisamos.


Sua onipotência. Basta que o servo se contente com fazer o que seu Senhor espera dele, sem se preocupar por nada do mundo para sua própria subsistência.


A fidelidade a sua promessa. No Sermão da montanha Jesus nos revelou o rosto de Seu Pai celestial, que se preocupa por seus filhos, atendendo as suas necessidades para viver. E Teresa continua: “Verdadeiras são suas palavras; não podem faltar; antes faltarão o céu e a terra‘ (C 2,2).


Verdadeiro significado da atitude de abandono


Dois textos da Santa mostrando como convém entender, e sobretudo viver, com clareza, esse abandono à Providência:

“Queria falar com quem me ajudasse a crer assim, e não ter preocupação com o que hei de comer e vestir, senão deixá-lo a Deus” (Primeira Relação, 1560). “Não se entenda que este deixar a Deus o que é necessário seja de maneira que não o procure, porém, que não seja com preocupação, … (R 1,21).

O outro texto, de sentido mais geral, se refere à essência mesma do que ela chama de “pobreza espiritual” (C 2, 3. 5) “Não digo eu que o deixe, senão que o procure, se for bem… Porque o verdadeiro pobre tem em tão pouco estas coisas, já que, algumas coisas as procura, jamais se inquieta, porque nunca pensa que há de faltar, e que o falte, … tendo-o por coisa acessória e não principal e, como tem pensamentos mais altos, a força dos braços a ocupa em algo mais elevado”. (CE 66,7).


Como entender o abandono?


Fazer tudo quanto depende de nós. O verdadeiro abandono não pode significar descuido, imprevisão, atitude irresponsável, passividade. “Ajuda-te e o céu te ajudará”. Isto significa que a Providência divina não nos dispensa de trabalhar nos seguintes pontos: previsão e esforço para ganharmos o nosso pão de cada dia.

Porém não devemos nos inquietar. Há uma inquietação boa e outra má. A boa é a que busca os “bens verdadeiros”, as “verdadeiras riquezas”, quer dizer, “O Reino de Deus e sua justiça”, em uma palavra, o mesmo Jesus: “Ó Riqueza dos pobres, e que admiravelmente sabeis sustentar as almas!” (v 38,21). Este é o tesouro escondido que temos de buscar com todas as nossas forças, sem cansar-nos nunca (5M 1,3), e que nos faz morrer de gozo quando chegarmos a descobri-lo (V 38,20). A inquietação má é a que busca com afã e perturbação interior as riquezas materiais, supérfluas. Esta provém da falta de fé, e de dois modos diferentes:

Em primeiro lugar, por dar importância ao que não deveria tê-la.
Em segundo lugar, por esquecer a promessa do Pai celestial de não abandonar jamais a seus filhos.


CONCLUSÃO:


O que as carmelitas têm que buscar a todo custo é a paz interior, tão necessária para a sua vida contemplativa.