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4 de dez. de 2008

Vocação à Santidade

Comentário ao Evangelho do dia feito por : S. João da Cruz


Evangelho segundo S. Mateus 7,21.24-27. «Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.»






ocação à Santidade


"Para fazer de um homem um santo, só é necessária a Graça. Quem duvida disto não sabe o que é um santo, nem o que é um homem", observava Pascal com o seu esmero característico nos Pensamentos. Recorro a esta observação para indicar as duas perspectivas destas reflexões: no santo convergem a celebração de Deus (nomeadamente, da sua Graça) e a celebração do homem, nas suas potencialidades, nos seus limites, nas suas aspirações e nas suas realizações.



São conhecidas as inúmeras objecções que hoje se levantam contra o conceito de "santidade" e de "santo". Não poucas críticas são dirigidas à prática tradicional e ininterrupta da Igreja, de reconhecer e proclamar "santos" alguns dos seus filhos mais exemplares. Na grande relevância, também numérica, dada pelo Papa João Paulo II às beatificações e canonizações durante o seu Pontificado, houve quem insinuasse a existência de uma estratégia expansionista da Igreja católica.



Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, a Carta que o Papa João Paulo II entregou à Igreja no encerramento do Grande Jubileu do Ano 2000, fala-se com um profundo realce do tema da santidade. No "grande exército de santos e de mártires", que inclui "Sumos Pontífices, bem conhecidos da história, ou humildes figuras de leigos e de religiosos, de um extremo ao outro do globo observou o Papa João Paulo II, no n. 7 da Carta a santidade pareceu mais do que nunca a dimensão que melhor exprime o mistério da Igreja. Mensagem eloquente, que não tem necessidade de palavras, ela representa ao vivo o rosto de Cristo".



Para compreender a Igreja, é necessário conhecer os santos, que são o seu sinal e o seu fruto mais amadurecido e eloquente. Para contemplar o rosto de Cristo nas mutáveis e diversas situações do mundo contemporâneo, é preciso olhar para os santos que "representam profundamente o rosto de Cristo" (Ibidem), como nos recorda o Papa. A Igreja deve proclamar santos e há-de fazê-lo em nome daquele anúncio da santidade que a enche e a transforma precisamente em instrumento de santidade no mundo.



"Deus manifesta de forma viva aos homens a sua presença e o seu rosto na vida daqueles que, embora possuindo uma natureza igual à nossa, se transformam mais perfeitamente na imagem de Cristo (cf. 2 Cor 3, 18). Neles é Deus quem nos fala e nos mostra um sinal do seu reino (...) para o qual somos fortemente atraídos, ao vermos tão grande nuvem de testemunhas que nos envolve (cf. Hb 12, 1) e tais provas da verdade do Evangelho" (Lumen gentium, 50). Neste trecho da Lumen gentium encontramos a profunda razão do culto aos beatos e santos.



3. A Igreja realiza a missão que lhe foi confiada pelo Mestre divino, de ser instrumento de santidade através dos caminhos da evangelização, dos sacramentos e da prática da caridade. Esta missão recebe uma notável contribuição de conteúdos e de estímulos espirituais, também da proclamação dos beatos e santos, porque eles mostram que a santidade é acessível às multidões, que a santidade pode ser imitada. Com a sua existência pessoal e histórica, eles fazem experimentar que o Evangelho e a vida nova em Cristo não são uma utopia ou um mero sistema de valores, mas "fermento" e "sal", capazes de fazer viver a fé cristã dentro e fora das várias culturas, regiões geográficas e épocas históricas.



"O futuro dos homens observava o saudoso Cardeal Giuseppe Siri nunca é claro, porque todos os seus pecados corroem todos os caminhos da história e levam a uma dialéctica cheia de causas e de efeitos, de erros e de vinganças, de explosões e de interrupções. A certeza de que os santos continuarão a acompanhar os homens é uma das poucas garantias do futuro" (Il primato della verità, pág. 154.).



4. O fenómeno dos santos e da santidade cristã cria um sentido de admiração que nunca esmoreceu na vida da Igreja e que não pode deixar de surpreender até um observador laico atento, sobretudo hoje, num mundo que muda contínua e rapidamente, num mundo fragmentado sob o ponto de vista cultural, tanto a nível de valores como de costumes. É da admiração que deriva a pergunta: o que é que faz com que a fé encarne em todas as latitudes, nos diversos contextos históricos, entre as mais variadas categorias e estados de vida? Como é possível que, sem dinamismos de poder, impositivos ou persuasivos que sejam, e sem dinamismos de uniformidade, existam tantos santos, tão diferentes entre si e em tal harmonia com Cristo e com a sua Igreja? O que é que leva à livre assunção do núcleo germinativo cristão, que depois desenvolve tanta diversidade e beleza na unidade da santidade? Como é diferente a globalização, de que hoje se fala com tanta frequência, da catolicidade ou universalidade da fé cristã e da greja, que essa fé vive, conserva e difunde!



5. Neste contexto de pensamentos, é interessante fazer uma observação sobre o modo como a Igreja católica reconhece e proclama os beatos e os santos. Refiro-me em particular ao trabalho da Congregação para as Causas dos Santos, chamada a estudar e reconhecer a santidade e os santos através de um procedimento minucioso e sábio, consolidado, renovado e renovável no tempo.



Os santos e a santidade são reconhecidos com um movimento que parte de baixo para cima. Ainda hoje, é o próprio povo cristão que, reconhecendo por intuição da fé a "fama de santidade", indica ao seu Bispo titular da primeira fase do processo de canonização os candidatos à canonização e, em seguida, à Congregação competente da Santa Sé. Nem a Congregação para as Causas dos Santos, nem o Papa, "inventam" ou "fabricam" os santos. Como todos os cristãos sabem, isto é obra do Espírito Santo. Que este mesmo Espírito como diz o Evangelho "sopra onde quer", é uma constatação a que estamos habituados desde há séculos, e hoje muito mais, uma vez que a Igreja está espalhada em todas as partes do mundo e em todas as camadas sociais.




Assim, deve reconhecer-se que o Papa João Paulo II fez da proclamação de novos beatos e santos uma autêntica e constante forma de evangelização e de magistério. Ele quis acompanhar a pregação das verdades e dos valores evangélicos com a apresentação de santos que viveram aquelas verdades e aqueles valores de modo exemplar. Durante o seu Pontificado, e, portanto, desde 1978 até hoje, João Paulo II beatificou 1.299 pessoas, 1.029 das quais são mártires, e canonizou 464 beatos, 401 dos quais encontraram a morte no martírio. Os leigos elevados às honras dos altares são também muito mais do que geralmente se pensa: com efeito, trata-se de 268 beatos e de 246 santos, 514 no total.


Para alguns, eles são muitos; para outros, poucos.

No que diz respeito ao número de santos, o Papa João Paulo II não ignora o parecer de quem considera que eles são demasiados. Pelo contrário, fala disto explicitamente. Eis a resposta do Papa a este propósito: "Às vezes diz-se que hoje há demasiadas beatificações. Mas isto, além de reflectir a realidade, que por graça de Deus é aquela que é, corresponde também ao desejo expresso pelo Concílio. O Evangelho espalhou-se de tal maneira no mundo e a sua mensagem mergulhou as suas raízes de modo tão profundo, que o elevado número de beatificações reflecte precisamente de modo vivo a acção do Espírito Santo e a vitalidade que dele brota no campo mais essencial para a Igreja, o da santidade. Com efeito, foi o Concílio que realçou de forma particular a vocação universal à santidade" (Discurso de abertura do Consistório, em preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, 13 de Junho de 1994).



Na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, o Papa João Paulo II escreveu: "Nestes anos, foram-se multiplicando as canonizações e as beatificações. Elas manifestam a vivacidade das Igrejas locais, muito mais numerosas hoje do que nos primeiros séculos e no primeiro milénio. A maior homenagem que todas as Igrejas prestarão a Cristo no limiar do terceiro milénio, será a demonstração da presença omnipotente do Redentor, mediante os frutos de fé, esperança e caridade em homens e mulheres de tantas línguas e raças, que seguiram Cristo nas várias formas da vocação cristã" (n. 37)...

Numa época de crise das utopias colectivas, num período de desconfiança e de incredulidade em relação ao que é teórico e ideológico, está a nascer uma nova atenção para com os santos, figuras singulares em que se encontra não uma nova teoria e nem sequer simplesmente uma moral, mas um desígnio de vida a narrar, a descobrir através do estudo, a amar com devoção e a realizar mediante a imitação.



Só podemos alegrar-nos com este despertar de atenção para com os santos, porque eles são de todos, constituem um património da humanidade que progride para além de si mesma, num desenvolvimento que, enquanto honra o homem, também dá glória a Deus, porque "o homem vivo é a glória de Deus" (Santo Ireneu de Lião).



Quero ler tudo o que considerámos até aqui, à luz de uma mensagem, verdadeiramente fascinante, do Santo Padre João Paulo II que, na minha opinião, pode dar, a quem reflectir sobre este tema, pelo menos uma ideia da visão do Sumo Pontífice sobre a santidade, inseparavelmente vinculada à dignidade baptismal de cada cristão e, por conseguinte, explicar melhor também o papel das beatificações e canonizações no caminho pastoral da Igreja, nestes vinte e cinco anos de Pontificado de Karol Wojtyla. A mensagem é a que foi enviada para o dia mundial de oração pelas vocações de 2002: "A primeira tarefa da Igreja é acompanhar os cristãos pelos caminhos da santidade (...) a Igreja é "a casa da santidade" e a caridade de Cristo, derramada pelo Espírito Santo, constitui a sua alma" (Acta Apostolicae Sedis, vol. XCIV, 3 de Maio de 2002, n. 5).



Por conseguinte, na Igreja tudo, e cada uma das vocações em particular, está ao serviço da santidade! E é indubitavelmente neste sentido que, quando olhamos para a Igreja, jamais devemos esquecer de ver nela o rosto da "mãe dos santos", que gera santidade com fecundidade e generosidade superabundantes."



por : CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS

2 de out. de 2008

O Rosário Meditado

O Rosário Meditado

por Dom Fernando Arêas Rifan.
Bispo Administrador Apostólico - Adm Apost. São João Maria Vianey


Introdução
Atendendo ao novo incentivo dado pelo Santo Padre o Papa à oração do Rosário, na sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, que comemora os cento e vinte anos da Encíclica Supremi Apostolatus Officio de SS. Leão XIII, o papa do Rosário, apresentamos este Rosário Meditado, como método para melhor "contemplar com Maria o rosto de Cristo"

(n.3)*.Nota: Os números entre parênteses são da Carta Apostólica do Papa.


Com efeito, a contemplação ou meditação é a alma do Rosário, "oração marcadamente contemplativa" (n. 12) e sem ela, ele seria um corpo sem alma. E como, hoje sobretudo, temos "necessidade de um cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oração", o Santo Rosário meditado servirá para transformar cada vez mais nossas comunidades em "autênticas escolas de oração" (n. 5).



O Rosário "concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica da qual é quase um compêndio... Com ele, o povo cristão freqüenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor" (n.1).Seguindo as sugestões do Santo Padre, neste Rosário Meditado, além da inserção dos Mistérios Luminosos, já contemplados também por São Luiz Maria Grignion de Montfort, incrementaremos os seguintes pontos:1)

A enunciação clara e viva do mistério, procurando seguir o método de Santo Inácio de Loiola da "composição de lugar", recorrendo ao elemento visível e figurativo como grande ajuda para facilitar a concentração do espírito no mistério (n. 29). A fim de dar fundamentação bíblica e maior profundidade à meditação, é útil que a enunciação do mistério seja acompanhada pela proclamação de uma passagem bíblica alusiva, que, segundo as circunstâncias, pode ser mais ou menos longa, para que ouçamos assim a Palavra de Deus, com a eficácia própria da palavra inspirada, que se dirige a cada um de nós (n. 30).2)




O silêncio:


uma pausa silenciosa após a enunciação do mistério para fixar o olhar sobre o mistério meditado, antes de começar a oração vocal (n. 31).3) O Pai-Nosso: elevação do nosso espírito ao Pai Eterno, em cuja intimidade Jesus nos quer introduzir e no qual todos nos tornamos irmãos. O Pai-Nosso é como que o alicerce da meditação cristológico-mariana que se desenrola através da repetição da Ave-Maria (n. 32).4)

A acentuação dada ao nome de JESUS, centro de gravidade da Ave-Maria, dobradiça entre a sua primeira parte e a segunda. "É precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao seu mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário". Por isso, seguindo um costume tradicional em alguns países, recomendado também por São Luis Maria Grignion de Montfort para diminuir as distrações da imaginação, procuramos dar realce ao nome de Jesus, acrescentando-lhe uma cláusula invocativa do mistério que se está meditando. "É um louvável costume, sobretudo na recitação pública" (n. 33).


As cláusulas podem variar para cada Ave-Maria, conforme indicamos, ou ser única para todo o mistério; neste caso, repete-se a que está assinalada em negrito. A cláusula será normalmente acrescentada, na oração em particular, após o nome de Jesus. Na oração em público, sugerimos colocá-la antes do nome de Jesus, logo após as palavras "do vosso ventre", para facilitar a resposta da comunidade.5) O Glória ao Pai, a doxologia trinitária, é a meta da contemplação cristã. Ele deve ter uma importância ressaltada no Rosário, já que ele é o apogeu da contemplação. Na recitação pública é aconselhável cantá-lo.


O Glória ao Pai deve ser o ápice da meditação do mistério, elevando-nos ao Paraíso, como no Monte Tabor, antecipando a contemplação futura: "Que bom é estarmos aqui" (Lc 9,33) (n. 34).6) A jaculatória final, "uma oração para obter os frutos específicos da meditação de cada mistério". E o Papa acena para "uma bela oração litúrgica que nos convida a pedir para, através da meditação dos mistérios do Rosário, chegarmos a ‘imitar o que contêm e a alcançar o que prometem’" (Oração da Festa de Nossa Senhora do Rosário, no Missal Romano de São Pio V, conforme a nota da Carta Apostólica) (n. 35).7)


Oração a São José: No espírito da Pia União de São José da Boa Morte, acrescentamos, no final do mistério, a oração a São José pelos agonizantes do dia.8) Pelas almas do Purgatório: Imitando a Liturgia da Igreja e a devoção do Santo Padre o Papa, rezamos, no final de cada mistério, pelos nossos falecidos, implorando da misericórdia de Deus o seu descanso eterno.Na oração pública ou privada, o fiel poderá usar todas ou selecionar uma ou outra entre as várias sugestões para meditar o Rosário, como, por exemplo, escolher um dos modos da enunciação do mistério, rezar ou não a oração a São José e pelas Almas, escolher a seu gosto uma das cláusulas acrescentadas ao nome de Jesus, etc.


Com esse modo de rezar e meditar, o Santo Rosário será verdadeiramente redescoberto e valorizado pela comunidade cristã neste ANO DO ROSÁRIO (n.3 e n. 43).Assim atenderemos ao apelo insistente do Santo Padre o Papa.

Cum Maria contemplemur Christi vultum
Joannes Paulus II
Ipso Rosarii Anno

Método de rezar o Rosário



Modo de rezar o Rosário

Para recitar o Rosário com verdadeiro proveito deve-se estar em estado de graça ou pelo menos ter a firme resolução de renunciar o pecado mortal.

1. Segurando o Crucifixo, fazer o Sinal da Cruz e em seguida rezar o Credo.
2. Na primeira conta grande, recitar um Pai Nosso.
3. Em cada uma das três contas pequenas, recitar um Ave Maria.
4. Recitar um Glória antes da seguinte conta grande.
5. Anunciar o primeiro Mistério do Rosário do dia e recitar um Pai Nosso na seguinte conta grande.
6. Em cada uma das dez seguintes contas pequenas (uma dezena) recitar um Ave Maria enquanto se faz uma reflexão sobre o mistério.
7. Recitar um Glória depois das dez Ave Marias. Também se pode rezar a oração de Fátima.
8. Cada uma das seguintes dezenas é recitada da mesma forma: anunciando o correspondente mistério, recitando um Pai Nosso, dez Ave Marias e um Glória enquanto se medita o mistério.
9. Ao se terminar o quinto mistério o Rosário costuma ser concluído com a oração da Salve Rainha.
Orações do Santo Rosário - O Terço

Sinal da cruz - Em nome do Pai + do Filho + e do Espírito Santo + Amém.

Oferecimento : Divino Jesus, nós Vos oferecemos este terço que vamos rezar, contemplando os mistérios da Vossa Redenção. Concedei-nos, por intercessão de vossa Mãe Santíssima as virtudes que nos são necessárias para bem rezá-lo e a graça de ganharmos as indulgências anexas a esta santa devoção.

Creio em Deus Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, um só seu Filho, nosso Senhor; o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu aos infernos; ressurgiu dos mortos; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos; creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.

Pai-Nosso
Pai-Nosso que estais nos céus, santificado seja vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossa dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Ave Maria
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

Glória ao Pai
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém

Jaculatória
: Óh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno. Levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem.

Agradecimento
Infinitas graças vos damos, Soberana Rainha, pelos benefícios que todos os dias recebemos de vossas mãos liberais. Dignai-vos agora e para sempre tomar-nos debaixo de vosso poderoso amparo e para mais nos obrigar vos saudamos com uma Salve Rainha….

Salve RainhaSalve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém

ROGAI POR NÓS SANTA MÃE DE DEUS PARA QUE SEJAMOS DIGNOS DAS PROMESSAS DE
CRISTO! AMÉM.

Mistérios Gozosos

1º MISTÉRIO: ANUNCIAÇÃO – O ANJO ANUNCIA A MARIA QUE ELA SERÁ MÃE DO FILHO DE DEUS

Contemplamos a anunciação do anjo Gabriel à Nossa Senhora e a encarnação do verbo de Deus em seu ventre. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra” - aqui vemos em Maria o despojamento, a humildade, o amor a Deus e a entrega de si mesma.
Meditação: Hoje o Senhor nos chama dar o sim para Jesus; nascer em nosso coração em nossa vida, dar sentido à nossa vida terrena e acolher o plano de Deus para nossa salvação

2º MISTÉRIO: MARIA VISITA SUA PRIMA IZABEL IDOSA QUE ESTAVA GRÁVIDA DE JOÃO BATISTA

Contemplamos a visitação de Nossa Senhora à Santa Isabel. “E partindo às pressas foi às montanhas ficar com sua prima que já de idade avançada estava grávida”…. Isabel a saúda: Tu és bendita.. como posso merecer que a MÃE do meu Senhor venha me visitar, quando adentrastes pela porta a criança saltou em meu ventre. Maria responde: “Minha Alma glorifica o Senhor… Meu espírito exulta em Deus Meu Salvador!”

A humildade e a entrega de si mesma em favor dos mais necessitados; hoje Deus nos chama a trabalhar em sua vinha, sair de nosso conforto e procurar os que estão necessitados; não só de pão, mas de amor, apoio e do conhecimento da palavra do Senhor.

3º MISTÉRIO: JESUS NASCE EM UMA GRUTA, EM BELÉM.

Contemplamos o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo em Belém. Um Deus tão grande e poderoso vem até nós… o verbo de Deus se faz carne, sai da sua divindade e se torna um pobre mortal semelhante a nós em tudo, menos no pecado.

Jesus nos mostra que nada que temos ou possuímos, nesse mundo importa, comparado àquilo que há de vir… o mais importante: a vida eterna. O orgulho de um anjo que queria ser Deus gerou o pecado. E o salário do pecado é a morte… …a humildade é a chave de toda a nossa salvação, a pureza de coração, a entrega sincera a Deus é a obediência, e o salário da obediência é a vida eterna. Pois todo aquele que crer em mim mesmo que morra eu o ressuscitarei.

4º MISTÉRIO: APRESENTAÇÃO DE JESUS AO TEMPLO
Contemplamos a apresentação do Menino Jesus no Templo e a Purificação de Nossa Senhora. Uma espada de dor transpassará o vosso Coração. Apresentando o nosso coração ao Senhor para que ele faça a circuncisão e tire aquela pele que impede a ação do Espírito Santo em nossa vida. E mesmo que em nossa caminhada junto ao Senhor uma espada penetre nossa alma, possamos pela força de seu Espírito Santo ver a salvação que vem de Jesus.

5º MISTÉRIO: A PERDA E O REENCONTRO DE JESUS EM JERUSALÉM
Contemplamos a perda e o reencontro de Jesus no templo de Jerusalém. Maria e José perderam Jesus ainda menino aos 12 anos em Jerusalém e após três dias de dor e sofrimento o encontram no templo no meio de doutores da lei ensinando a doutrina do Pai. A Escritura Sagrada, é o caminho para encontrarmos Jesus, quando nos perdemos ou desviamos desse caminho, a conseqüência é a dor o sofrimento. Na procura diária pela leitura, estudo e reflexão da Bíblia, podemos buscar o encontro ou o reencontro com Nosso Senhor e depois viver essas palavras e ensinamentos o quanto mais cedo. E, assim como Jesus, crescer na obediência e cuidar das coisaS do Pai.

MISTÉRIOS DOLOROSOS
1º MISTÉRIO: A AGONIA DE JESUS
Contemplamos a agonia Mortal de Nosso Senhor, quando suou sangue no Horto das Oliveiras. “Minha alma está triste a ponto de morrer, ficai aqui e vigiai. “Vigiai e orai para não cairdes em tentação, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.”

A oração e vigilância nos livra de cairmos nas armadilhas do demônio. Ele está sempre esperando uma oportunidade para nos fazer cair no pecado. Só com a força da oração constante podemos vencê-lo. Jesus mesmo sabendo tudo o que iria lhe acontecer, suportou toda tristeza e foi obediente ao Pai. Seguir o seu exemplo e em todas as coisas que nos acontecer, seja boa ou má …sempre seja feito a vontade de Deus e não a nossa, pois Ele sabe o que é melhor para cada um de nós.

2º MISTÉRIO: A FLAGELAÇÃO DE JESUS ATADO A UMA COLUNA
Contemplamos a flagelação de Nosso Senhor. O sofrimento – a humilhação o escárnio- a violência de um inocente. Toda essa humilhação e dor por cada um de nós, pecadores. O amor que sente por cada ser humano é impossível de se imaginar. E todas as vezes que pecamos e ofendemos um irmão estamos sendo os carrascos que torturaram Jesus.

3º MISTÉRIO: A COROAÇÃO DE ESPINHOS
Contemplamos a coroação de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cada ponta de espinho… um pecado – em cada gota de sangue derramado o perdão.
Sua sagrada face coberta de sangue… o sangue que nos lavou e limpou de nossos pecados; na dor provocada pelos espinhos resgatou-nos da morte. O mesmo sangue que hoje derrama em cada Santa Missa Celebrada; poderoso sangue redentor, que nos cura e liberta de toda escravidão do pecado.

4º MISTÉRIO: JESUS CARREGA A CRUZ ATÉ O CALVÁRIO
Contemplamos a subida dolorosa de Jesus carregando a Cruz para o Calvário. O peso dos pecados do mundo nos ombros abriram chagas que chegavam até os ossos.
Todo aquele que quiser vir após mim, renegue a si mesmo toma sua cruz e siga-me. As cruzes diárias é caminho de redenção e salvação. Aceitar as cruzes é amar a Jesus e imitá-lo. O servo fiel que segue seu mestre e também dá a vida por outro irmão.
5º MISTÉRIO: JESUS MORRE NA CRUZ

Contemplamos a crucificação e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cruz, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, consolo e sinal de fé para os cristãos. A cruz Sagrada seja a nossa luz… todo sofrimento na terra não tem comparação ao da cruz do Senhor. Por amor ao ser humano e ao pecador suportou dores incalculáveis, humilhou-se, foi insultado e desprezado, tratado como o pior dos criminosos. O maior dos tesouro de um cristão ..honrar a Santa Cruz!
MISTÉRIOS GLORIOSOS
1º MISTÉRIO: A RESSURREIÇÃO DE JESUS

Contemplamos a ressurreição de Jesus. A morte não é o fim para aqueles que crêem em Jesus. A vitória sobre a morte, a esperança na vida eterna, o envio a anunciar a boa-nova, a remissão dos pecados. A paz de Jesus àqueles que O seguem.

2º MISTÉRIO: A ASCENÇÃO DO SENHOR
Contemplamos a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Céu. A volta ao Pai para preparar–nos um lugar e para cuidar de cada um de nós intercedendo junto a Deus pelo perdão de nossos pecados.

3º MISTÉRIO: A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO SOBRE OS APÓSTOLOS
Contemplamos a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos com a Virgem Maria em Jerusalém. A vinda do Prometido, o Espírito Santo Paráclito: o advogado-defensor. O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo os que vos disse.

O Espírito Santo que recebemos no Batismo é nosso condutor, defende-nos diante do Pai, pois temos um acusador dia e noite que nos acusa diante de Deus… satanás; mas o Espírito Santo que habita em nós, ora em nós com gemidos inefáveis, pois não sabemos o que pedir a Deus.

4º MISTÉRIO: A ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU
Contemplamos a assunção de Nossa Senhora ao Céu: o encontro da Mãe com o Filho no céu. Concebida sem pecado Virgem Santa merecedora de todas as graças. A filha predileta do Pai sempre fiel a Deus, guardou tudo sempre em seu coração, virgem do silêncio, seu corpo templo do Espírito Santo, Sacrário Vivo, não poderia ser corrompido pela terra como simples pecadora.
5º MISTÉRIO: A COROAÇÃO DE MARIA POR JESUS E OS ANJOS
(A serva fiel de Deus tornou-se Rainha)Contemplamos a coroação de Nossa Senhora como Rainha de todos os anjos e santos. Rainha dos Anjos: Uma mulher vestida de Sol, sobre a cabeça uma coroa de estrelas e sobre o os pés a lua. Rainha da Terra, Rainha da Igreja intercessora poderosa junto a Jesus, tem poder de esmagar a cabeça do dragão infernal, na hora de nossa morte nos defenderá junto a Jesus, e a todos aqueles que por amor a ela e a seu filho forem fiéis na oração do Santo Rosário. ….a cada Ave-Maria depositamos uma rosa a seus pés…..

MISTÉRIOS LUMINOSOS
1º MISTÉRIO: O BATISMO DE JESUS

Contemplamos o Batismo de Jesus Cristo no rio Jordão. Com atitude humilde ele nos mostra o caminho inicial da Salvação: a aceitação de Deus como nosso único Senhor. Cristo é a luz do mundo, Luz é o atributo da divindade. “Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina”(Jo 1,9). “Quem me segue…”- disse Jesus - terá a luz da vida”(Jo 8,12). Nós, cristãos, somos “filhos da luz” (cf. Ef 5,8). A luz de Cristo é levada a todo o mundo pelos seus discípulos.
Batismo de Jesus - Enquanto Cristo desce à água do rio Jordão, como inocente que se faz pecado por nós (cf 2Cor 5,21), o céu se abre e a voz do Pai proclama-o Filho amado (cf Mt 3,17), ao mesmo tempo em que o Espírito o investe na missão que o esperava.

2º MISTÉRIO: A AUTO-REVELAÇÃO DE JESUS NAS BODAS DE CANÁ

Contemplamos sua auto-revelação nas bodas de Caná, quando transformou água em vinho. Atendendo o pedido de Maria, Jesus inicia seu caminho em direção à Salvação dos Homens fazendo seu primeiro milagre.

Auto-revelação de Jesus nas bodas de Caná - Mistério de luz é o inicio dos sinais em Caná (cf Jo 2, 1-12), quando Cristo, transformando a água em vinho, abre a fé o coração dos discípulos graças à intervenção de Maria, a primeira entre os que crêem.

3º MISTÉRIO: O ANÚNCIO DO REINO DE DEUS
Contemplamos o anúncio do Reino de Deus com o convite à conversão. Jesus nos convida a nos
convertermos plenamente às leis de Deus em busca da felicidade eterna. O anúncio da Boa-Nova traz a esperança de um mundo melhor para todos os homens.

Jesus anuncia o Reino de Deus com o convite à conversão - Mistério de luz é a pregação com a qual Jesus anuncia o advento do Reino de Deus e convida à conversão (cf Mc 1,15), perdoando os pecados de quem a ele se dirige com humilde confiança (cf Mc 2,3-1; Lc 7,47s), início do mistério de misericórdia que ele prosseguirá exercendo até o fim do mundo, especialmente da reconciliação confiado à sua Igreja (cf Jo 20,22s)
4º MISTÉRIO: A TRANSFIGURAÇÃO
Contemplamos a transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim Ele mostra aos Apóstolos e a todos os seres humanos a Sua verdadeira essência divina. Sua Luz nos orienta a seguir os caminhos do bem. Transfiguração de Jesus - Mistério da luz por excelência é a transfiguração que, segundo a tradição, se deu no monte Tabor. A glória da divindade reluz no rosto de Cristo, enquanto o Pai o apresenta aos apóstolos extasiados para que o “escutem” (cf Lc 9,35) e se disponham a viver com ele o momento doloroso da paixão, a fim de chegarem com ele à glória da ressurreição e a uma vida transfigurada pelo Espírito Santo.

5º MISTÉRIO: A INSTITUIÇÃO DA ESUCARISTIA
Contemplamos a instituição da Eucaristia. Jesus nos dá seu próprio corpo e sangue como alimento espiritual para nossas almas. É a entrega total e a maior prova de Seu Amor por toda a humanidade. Mesmo sabendo que ia ser traído e entregue ao sacrifício Ele nos deu uma mostra suprema de Sua divindade.

Instituição da Eucaristia - Mistério da luz é, enfim, a instituição da Eucaristia, na qual Cristo se faz alimento com o seu corpo e o seu sangue sob os sinais do pão e do vinho, testemunhando “até o extremo” o seu amor pela humanidade (Jo 13,1), por cuja salvação se oferecerá em sacrifício.
As Quinze Promessas da Santíssima Vírgem aos que rezarem o Rosário
1. Aqueles que rezarem com enorme fé o Rosário receberão graças especiais.
2. Prometo minha proteção e as maiores graças aos que rezarem o Rosário.
3. O Rosário é uma arma poderosa para não ir ao inferno: destrói os vícios, diminui os pecados e nos defende das heresias.
4. Receberá a virtude e as boas obras abundarão, receberá a piedade de Deus para as almas, resgatará os corações das pessoas de seu amor terreno e vaidades, e os elevará em seu desejo pelas coisas eternas. As almas se santificarão por meio do Rosário.
5. A alma que se encomendar a mim no Rosário não perecerá.
6. Quem rezar o Rosário devotamente, e tiver os mistérios como testemunho de vida, não conhecerá a desgraça. Deus não o castigará em sua justiça, não terá uma morte violenta, e se for justo, permanecerá na graça de Deus, e terá a recompensa da vida eterna.
7. Aquele que for verdadeiro devoto do Rosário não perecerá sem os Sagrados Sacramentos.
8. Aqueles que rezarem com muita fé o Santo Rosário em vida e na hora de sua morte encontrarão a luz de Deus e a plenitude de sua graça, na hora da morte participarão do paraíso pelos méritos dos Santos.
9. Livrarei do purgatório àqueles que rezarem o Rosário devotamente.
10. As crianças devotas ao Rosário merecerão um alto grau de Glória no céu.
11. Obterão tudo o que me pedirem mediante o Rosário.
12. Aqueles que propagarem meu Rosário serão assistidos por mim em suas necessidades.
13. Meu filho concedeu-me que todo aqueles que se encomendar a mim ao rezar o Rosário terá como intercessores toda a corte celestial em vida e na hora da morte.
14. São meus filhinhos aqueles que recitam o Rosário, e irmãos e irmãs de meu único filho, Jesus Cristo.
15. A devoção a meu Rosário é um grande sinal de profecia.

11 de set. de 2008

Mês da Bíblia com Santa Terezinha


SANTA TERESINHA E O MENINO JESUS


Desde muito cedo Teresa Martin iniciou sua devoção ao Menino Jesus. Aos seis anos e meio, começa a se preparar para a primeira comunhão, sendo catequizada por sua irmã Paulina. Graças a esta catequese, o amor ao Menino Jesus vai aumentando em seu coração. Ao falar deste período, nossa santa afirma que "amava-o muito" (A 31v).



Não é, pois, de se estranhar que à época de seu primeiro chamado à vida carmelitana, tenha aceitado com entusiasmo a proposta de Madre Gonzaga de se chamar "Teresa do Menino Jesus" quando ingressasse no Carmelo. Após prepará-la para a primeira comunhão, Paulina, já Irmã Inês de Jesus no Carmelo de Lisieux, convida a menina a considerar sua alma como um jardim de delícias no qual é preciso cultivar as flores de virtudes que Jesus virá colher em sua primeira visita.



No ano de 1887 se oferece ao Menino Jesus para ser seu brinquedo (A 64r), desejando abandonar-se sem reservas à sua misericórdia. Isto ocorre por ocasião da célebre audiência com o papa Leão XIII. Teresa esperava que o papa autorizasse sua entrada imediata no Carmelo, apesar da pouca idade. Enorme decepção! Recebe palavras ternas e não a resposta desejada. Por isso não fica perturbada. Não havia se oferecido para ser a "bolinha" de Jesus e não dissera que ele poderia fazer o que quisesse com ela?



A partir do dia 9 de abril de 1888, data de seu ingresso no Carmelo de Lisieux, Teresa pode, finalmente, realizar seu sonho de menina: assina suas cartas durante todo o postulantado como "Teresa do Menino Jesus" (Ct 46-79). No dia 10 de janeiro de 1889, dia em que recebe o hábito, assinará pela primeira vez "Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face", que será seu nome definitivo de Carmelita (Ct 80).



Quando entra na clausura, a primeira coisa que lhe chama a atenção é o sorriso de seu "Menino cor de rosa" (A 72v), que a acolhe. Ela se encarregará de colocar-lhe flores desde a Natividade de Maria: "era a Virgenzinha recém-nascida que apresentava sua florzinha ao Menino Jesus". (A 77r).



Teresa dedica muitas poesias, recreações piedosas e orações ao Menino Jesus, ao mistério do Natal e aos primeiros anos da infância de Cristo. No dia 21 de janeiro de 1894 cria e oferece à Madre Inês, em sua primeira festa como priora, uma pintura a óleo do Menino Jesus, a que intitula como "O sonho do Menino Jesus". Este quadro mostra o Menino Jesus de olhos abaixados, brincando com as flores que lhe são oferecidas. Ao fundo aparece sob a claridade da lua a Sagrada Face debaixo da cruz e cerca dos instrumentos da paixão.



Em uma carta enviada no mesmo dia (Ct 156), Teresa comenta seu quadro: longe de temer os sofrimentos futuros, o Menino Jesus conserva um olhar sereno e até sorri, pois sabe que sua esposa (Irmã Inês) permanecerá sempre ao seu lado para amá-lo e consolá-lo. Quanto aos olhos baixos, estes mostram sua atitude quanto à própria Teresa: "Ele está quase sempre dormindo". Neste último detalhe já vislumbramos uma prefiguração da grande prova de fé que irá acompanhá-la em seus últimos dias.



Nos finais de 1894, a jovem carmelita descobre sua "Pequena Via". A infância espiritual do cristão, feita de confiança e abandono, deverá se moldar na própria infância de Jesus, em seu caráter de Filho, tão particularmente representado nos traços de sua infância. No dia 7 de junho de 1897, Teresa se deixa fotografar, tendo nas mãos as estampas do Menino Jesus e da Sagrada Face. Sobre a imagem do Menino Jesus, conhecido como "de Messina", Teresa copia o versículo de Pr 9,4: "Quem for pequenino, venha a mim".

SANTA TEREZINHA E A SAGRADA ESCRITURA

Santa Teresinha viveu numa época em que era difícil o acesso à Bíblia. Os meios para conhecê-la eram limitados e as traduções muito imperfeitas. Superado o racionalismo frio que dominou os estudos bíblicos a partir do século XVII, na época de Teresinha se desenvolveram, especialmente no campo protestante e em alguns círculos católicos, diversos métodos de análise literária que representaram grandes avanços na crítica literária e textual.
A aceitação pouco crítica do sistema filosófico e científico da época (idealismo hegeliano, positivismo, historicismo...) levou a uma série de hipóteses e interpretações intermináveis e, por fim, à inevitável separação entre exegese e teologia. Isto resultou no distanciamento cada vez maior entre exegetas, teólogos e o povo cristão. A Igreja Católica reagiu a este movimento, rejeitando todo método crítico de leitura da Bíblia. O Pe. Lagrange tentou coadunar a visão católica da Bíblia com a crítica racional, em 1903, mas seus projetos foram tolhidos pela Encíclica Pascendi, de Pio X, frente à crise modernista. Foi preciso esperar muitos anos para a Igreja assumir uma postura menos radical e apologética.

Neste contexto histórico, cheio de apreensões frente ao estudo crítico da Bíblia, no qual se tornava cada vez mais contundente a separação entre Bíblia e teologia ou entre Bíblia e vida espiritual, Teresa viverá uma experiência bíblica inédita: pela leitura e meditação freqüente da Escritura descobre a vontade de Deus em sua vida e a Palavra de Deus vai se transformando na fonte primeira de sua experiência espiritual.
Poucos anos após sua morte, os dominicanos abriram em Jerusalém, sob os auspícios do governo francês, a "École Biblique". Este foi o primeiro grande esforço da Igreja Católica do século XX para levar adiante um projeto científico de estudo e investigação de arqueologia e exegese bíblicas. Assim, outro sonho se acrescentava aos desejos de Santa Teresinha: ser exegeta: "Não é triste ver tantas diferenças de traduções da Sagrada Escritura? Se eu fosse sacerdote, não me contentaria com o latim, mas teria aprendido o hebraico e o grego, para assim conhecer o texto verdadeiro ditado pelo Espírito Santo". (CA 4.8.5).

Teresinha não foi uma exegeta, no sentido com o qual este termo é usado atualmente nos ambientes de estudos bíblicos, mas uma ouvinte privilegiada da Palavra, graças à atitude espiritual com a qual dela se aproximou. Em Teresa se cumpre a palavra de Jesus: as coisas escondidas aos sábios e entendidos são reveladas aos simples (Mt 11,25; Lc 10,21). O Reino de Deus pertence àqueles que se tornam semelhantes às crianças (Mc 10,4). Ela é verdadeira mestra da vida espiritual na leitura da Bíblia para a comunidade cristã.
Com sua ajuda, o evangelho se transforma, de livro escrito em livro de vida, de um relato do passado a evento que compromete e transforma hoje. Teresinha nos ensina a sintonizar nossa própria história com a história de Cristo. Soube interpretar a Escritura com sabedoria, originalidade, frescor e surpreendente claridade.

1. Três dimensões da Bíblia

Santa Teresinha lê a Bíblia em três dimensões: a) como luz que orienta; b) um acontecimento para o hoje; c) força que nos faz experimentar a presença de Deus.

a) A Bíblia é Luz

Teresa se aproxima do evangelho, a partir das diversas situações da vida, certa de que nele vai encontrar a luz necessária: "Acima de tudo, o que me sustenta durante a oração é o evangelho. Nele encontro tudo o que necessita minha pobre alma. Nele continuamente descubro novas luzes e sentidos ocultos e misteriosos". (Ms A 83v). Ela não inventou o evangelho e nos recorda que ele é tudo, que ele nos basta.
À medida que vai amadurecendo em sua vida espiritual e em seu horizonte vão surgindo novas situações e exigências, Teresa vai descobrindo no único evangelho, "novas luzes e sentidos ocultos". E confidencia: "Jesus me conduz a cada passo e me inspira o que devo dizer ou fazer.. Exatamente no momento em que preciso, descubro luzes onde até então havia me fixado". (Ms A 83v).

Para nossa santa, a Bíblia é luz, como afirma o Salmo 119,105: "tua palavra é lâmpada para meus passos, uma luz em meu caminho". No evangelho descobre continuamente "novas luzes" (Ms A 83 v); nele encontra um caminho seguro para conhecer e seguir a Jesus. Pensa no evangelho como "pegadas luminosas" que iluminam a vida para saber onde ir (cf. Ms C 26v). A Bíblia, para Teresinha, é uma luz tão forte que ilumina todas as dimensões da existência cristã: "Tomo nas mãos a Sagrada Escritura e então tudo fica claro para mim, uma única palavra abre minha alma a horizontes infinitos".
A Bíblia a ilumina em algo de capital importância: a possibilidade e a gratuidade da santidade: "Abro a Sagrada Escritura... e a perfeição me parece fácil" (Ct. 226).

Para Teresinha, a vida vem em primeiro lugar. Determinada situação lembra-lhe espontaneamente uma cena evangélica ou uma expressão de Jesus. Desta forma Teresa capta o sentido dos acontecimentos e os interpreta à luz da Palavra de Deus. No início de sua autobiografia justifica toda sua vida à luz de um versículo do evangelho de Marcos (Mc 3,13), quando afirma: "Eis o mistério de minha vocação, de toda minha vida, sobretudo o mistério dos privilégios com os quais Jesus dispensou a minha alma" (Ms A 2r).
Ela não se aproxima da Bíblia a partir do texto, mas a partir do que está vivendo concretamente. Quer interpretar e iluminar a vida com a ajuda da Bíblia, adquirindo assim uma atitude verdadeiramente contemplativa. Quando busca sua vocação, em meio ao combate entre desejos que se entrechocam, busca a resposta em uma carta de São Paulo (Ms B 3r). Quando deseja encontrar um elevador que a conduza a Jesus, nos diz: "busquei nos Livros Sagrados algum indício do ascensor" (Ms C 3r).

Teresinha interpreta a vida antes da Bíblia. Em muitas oportunidades a vemos buscando textos apropriados que possam iluminar situações bem concretas. Vejamos alguns exemplos. Escreve a Celina e diz: "Abrindo o evangelho, pedi a Jesus que eu encontrasse alguma passagem para ti. Veja o que encontrei..." (Ct 143); ao Pe. Roulland escreve: "Esta noite, na oração, meditei algumas passagens de Isaías que me parecem muito apropriadas para você. Não posso deixar de transcrevê-las" (Ct 193).
Alguns meses antes de sua morte, sabendo que no convento havia irmãs que a julgavam com severidade e outras que gostavam dela, deseja saber o que Jesus pensa a seu respeito. Vêem-lhe à mente alguns trechos do evangelho de João: "Quando voltava à minha cela, eu me perguntava sobre o que Jesus pensaria de mim. No mesmo instante me lembrei das palavras que um dia ele dirigiu à mulher adúltera: ´Ninguém te condenou´? E, com lágrimas nos olhos, respondi: ´Ninguém, Senhor´." (Ct 230).

Teresa busca o evangelho e compreende sua vida a partir de um novo prisma. Um método espontâneo, baseado no dinamismo da fé, da esperança e do amor, aproximando-se sempre do texto sagrado a partir de questões vitais.

b) A Bíblia não é livro do passado

Para Teresa o evangelho não é uma história do passado, mas evento que se atualiza em sua vida e na vida das outras pessoas. Contemplando Jesus no evangelho descobre que se repetem misteriosamente em sua história pessoal as situações por ele vividas, suas palavras e sentimentos.
Tem convicção de que Jesus está presente em sua vida. Tudo que ele disse ou fez é uma realidade permanentemente revivida pelos cristãos. A leitura teresiana do evangelho atinge seu auge quando Teresinha, através de sua resposta de fé, deixa que a história de Jesus se atualize na sua vida. As duas histórias se fundem e se identificam.

Ela se apropria das palavras de Jesus, citando-as na primeira pessoa. Transcreve o capítulo 17 do evangelho de João, como se lhe pertencesse, com liberdade e audácia surpreendentes, adaptando-o à sua situação: salta versículos, reorganiza-os, muda palavras, etc. Depois, comenta: "Estou assombrada com o que acabo de escrever, pois não tinha intenção de fazê-lo. Mas, como está escrito, tem de ficar" (MC 35r). Escreveu impelida pelo amor que a une a Jesus. Sua audácia é a de uma criança que sente como seu o que pertence ao pai. Por isso repete as palavras do pai como se fossem suas.

Teresa deixa-se arder com os mesmos sentimentos de amor que arderam em Jesus. Isto se torna claro em seus comentários a respeito da sede de Jesus na cruz (Jo 19,28) e sobre o pedido de Jesus à samaritana em Jo 4,7: "dá-me de beber". Com relação à sede de Jesus na cruz, ela comenta: "Continuamente ressoava em meu coração o grito de Jesus na cruz: ´Tenho sede´. Estas palavras acendiam em mim um ardor desconhecido e muito vivo... Queria dar de beber a meu Amado, e eu me sentia devorada pela sede de almas". (M A 45v; cf. M A 46v; PN 24,10).
c) A Bíblia é força

Para santa Teresinha a Bíblia tem uma terceira dimensão: é força que nos leva a experimentar Deus. A Bíblia não traz apenas uma mensagem que se capta pela razão. É também força, consolação, boa notícia, que se acolhe no coração. Na Bíblia se revela a presença libertadora e consoladora de Deus. Esta convicção de fé é fonte de fortaleza e consolo em meio às lutas cotidianas.

Santa Teresinha confessa que o evangelho "a sustenta durante a oração" e, quando se vê impotente, a Sagrada Escritura "vem em seu socorro" (Ms A 83v). Quando descobre "o ascensor" em dois textos do Antigo Testamento, confidencia: "nunca palavras tão formosas e melodiosas alegraram minha alma" (Ms C 3r); e, quando encontra num texto da 1a. carta aos Coríntios, que completa seus desejos e responde à sua busca, exclama: "Podia, enfim, descansar" (Ms B 3v). A terminologia usada pela santa nos ajuda a perceber sua experiência da Bíblia enquanto força. A Palavra a sustenta, ajuda, provoca-lhe uma alegria indizível, oferece-lhe descanso.

2. Um método simples para ler e orar a Bíblia

O método bíblico-teresiano é muito simples: parte da vida, chega diretamente ao texto e o faz em atitude orante para encontrar uma nova luz onde antes não havia. um exemplo concreto, tirado dos Cadernos Amarelos, mostra como Teresinha lê a Bíblia. (CA 21/26.5.11). Madre Inês lhe dissera algumas palavras carinhosas, afirmando que tudo em Teresinha lhe agradava.
As palavras de Madre Inês a deixam perturbada: "Eu já estava comovida, mas, continuando a pensar que o seu amor fazia-a ver o que não é, eu não conseguia saborear plenamente". Teresinha está tomada de desarmonia e incerteza. Diante deste impasse, vai ao Evangelho: "aí, peguei meu pequeno evangelho". Este é o segundo momento: o contato direto com o texto bíblico a partir de uma experiência de vida. Teresa acrescenta um terceiro momento à sua leitura: "pedindo ao bom Deus que me consolasse, respondendo ele mesmo..." Ela lê a Bíblia orando.
Lembra-nos que a escuta de Deus não depende de nós, mas exclusivamente dele, de sua decisão gratuita e soberana em se comunicar conosco e possibilitar que escutemos sua voz. Sem a graça do Espírito a Bíblia é um livro fechado. Após orar, Teresa pousou os olhos num trecho "que nunca me havia chamado a atenção e então derramei lágrimas de alegria". Havia encontrado a resposta (Jo 3,34): "Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; o dom do Espírito é, na verdade, sem medida". Ela compreende que Madre Inês havia sido enviada por Deus e que dizia a verdade.

Resumindo, então. São três momentos: experiência de vida, contato direto com o texto, oração e descoberta de uma nova luz. As situações que impulsionam Teresa a buscar luz na Bíblia são muitas. Basta folhear seus escritos para encontrá-las: incerteza, desejos não realizados, escuridão, novas experiências, etc. Ela confessa seu contato direto com a Bíblia em diversas ocasiões. São conhecidas suas expressões: "Abrindo o evangelho, meus olhos se depararam com estas palavras" (A 2r); "pegando o evangelho" (Ct 143); "deparei com esta passagem" (Ct 193); "tomo em minhas mãos a Sagrada Escritura" (Ct. 226); etc.
Sabe deter-se no texto e ler atentamente. Bastaria que citássemos seu comentário sobre a passagem de Zaqueu (Ct 137), onde o verbo "descer" lhe dá a chave de leitura de todo o texto; mesmo quando fala do novo mandamento do amor (MC 12r), sua insistência na expressão "como Jesus" dá unidade à sua leitura. Isto demonstra uma delicada capacidade de leitura e uma atenção especial aos detalhes e termos mais significativos do texto. Quando pega o texto bíblico, "pede a Jesus encontrar uma passagem" apropriada à sua situação ou à de outras pessoas (Ct 143). Isto é, termina orando e dialogando com Jesus depois de ler a Bíblia, fundindo sua palavra de oração com a palavra bíblica(cf. Ct 230).

Vida, texto, oração e nova luz. Passos de uma forma de leitura bíblica simples e pessoal. Primeiro passo: escutar a vida. Segundo passo: pegar a Bíblia e lê-la atentamente para encontrar luz e força. Terceiro passo: fazê-lo em oração, pedindo a graça da escuta. Quarto passo: viver a experiência da transformação que opera a Palavra e viver obedientemente o que Deus nela revela.

Traduzido de http://members.tripod.com/debarim/teresitbibl

31 de jul. de 2008

Espiritualidade de Santo Inácio de Loyola


MOÇÕES, CONSOLAÇÕES E DESOLAÇÕES ESPIRITUAIS


"Moções", "consolações" e "desolações" são nomes dados por Santo Inácio de Loyola a diversos sentimentos experimentados por ele no seu leito de convalescente e depois, em momentos dedicados à oração e mesmo no decorrer do seu cotidiano. Ele costumava anotar estas observações num caderninho de apontamentos. Daí se originou o seu livrinho dos "Exercícios Espirituais". O desejo de Santo Inácio era o de auxiliar outras pessoas a caminharem na sua própria vida reagindo corretamente a estes diversos sentimentos produzidos pelos diversos espíritos, ou seja, a caminharem na sua vida de cada dia atentos à dimensão tão importante da espiritualidade do ser humano.




Lembremo-nos que para Sto. Inácio "os Exercícios Espirituais (EE) são o melhor que nesta vida eu posso pensar, sentir e entender, tanto para a pessoa poder aproveitar para si própria, como para poder frutificar, ajudar e aproveitar para muitos outros" (Carta a Manuel Miona, Veneza, 16 de novembro de 1536).


"Os EE têm transformado muitos corações e muitas vidas... Pessoalmente estou convencido de que não podemos oferecer coisa melhor". Carta do P. Peter-Hans Kolvenbach, Superior Geral da Companhia de Jesus, a todas as pessoas relacionadas com a mesma Companhia de Jesus, aos 27/09/91, Coleção Ignatiana, n.37, pg.19.

Moções Espirituais

As célebres "moções espirituais" dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola são pensamentos que vêm de fora, não têm origem no próprio querer e liberdade da pessoa, movem a pessoa a agir e deixam ou produzem, também, uma repercussão afetiva. Originam-se do próprio Deus e dos seus bons espíritos ou, ao contrário, dos instintos egoístas, do mal ou dos maus espíritos.


A atuação dos espíritos (Deus e os seus anjos, o mal em todas suas manifestações) acontece no âmago da pessoa humana, por essa realidade que Santo Inácio chamou de "moções espirituais". Perceptíveis, sobretudo, quando a pessoa está fazendo Exercícios Espirituais (EE), mas que também acontecem e podem ser detectadas no cotidiano da vida.


É importante esclarecer a noção de "moção espiritual", suas espécies, como atuam na pessoa humana, seus efeitos e como administrá-las ou nos comportar diante delas. São fatos, fenômenos, que ele, o leigo Inácio, como já foi dito, teve a graça de perceber acontecendo nele mesmo, inicialmente, no seu leito de convalescente, depois, quando se dedicava à oração; e mesmo, no cotidiano de sua vida.


Inácio observou que brotavam nele pensamentos que não provinham simplesmente de seu querer e liberdade. Estes pensamentos o moviam à ação, num sentido profundo da existência humana: contra Deus ou a favor de Deus. Percebeu que alguns pensamentos o levavam para Deus e para as coisas de Deus. Outros, ao contrário, o levavam a se afastar de Deus e das coisas de Deus. Uns o levavam a uma maior qualidade de vida. Outros, ao contrário, o conduziam a uma vida fugaz e enganosa.


Santo Inácio notou também que estes pensamentos deixavam uma marca afetiva no seu íntimo, no seu coração. Ora de arrependimento, de desejo de mudança, de paz, de alegria. Ele se sentia com muita fé, esperança, amor, esquecido de si mesmo e aberto para os outros, em profunda e serena paz. Em outras ocasiões, pelo contrário, percebia a si mesmo com sentimentos opostos: de falta de fé, de desesperança, sem amor, fechado em si mesmo e esquecido dos outros, perturbado.


O leigo Inácio constatava tudo isso na sua experiência. Não estava filosofando nem teorizando sobre o assunto. Somente teve a graça de notar o que estava acontecendo em si mesmo, na sua experiência. Observava apuradamente a influência destes pensamentos em sua vida e os efeitos produzidos e chegou com segurança a descobrir suas origens, sua natureza e a definir que atitudes adequadas caberiam ser tomadas diante de cada um deles.


Moções com causa precedente e moções sem causa precedente.

Estas moções espirituais geralmente são ocasionadas com base em algum pensamento, lembrança ou sentimento. Santo Inácio no seu livrinho dos EE dá o nome genérico de "causa precedente" a estes pensamentos, lembranças, sentimentos, ou qualquer acontecimento, que de alguma maneira ocasionaram as moções espirituais.


Estas "causas precedentes" podem ser utilizadas tanto pelo bom como pelo mau espírito. A mesma lembrança, o mesmo pensamento ou sentimento, pode ser base ou ocasião para uma moção do bom ou do mau espírito.

Por exemplo: a lembrança de uma marca negativa do passado pode ser causa precedente para o mau espírito dar uma moção de desesperança, de falta de fé e de desânimo na caminhada: "Eu sou ruim mesmo, veja o que já aconteceu comigo! Não tenho mais jeito". A mesma lembrança pode também, ser causa precedente, dar base ou ocasião para o bom espírito dar uma boa moção infundindo ânimo e coragem, agradecendo a Deus que me escolheu apesar destes fatos negativos do passado que me vieram à mente: "Como Deus é bom! Ele tem um amor privilegiado para comigo. Apesar de tudo que comigo já aconteceu ele me escolheu para ser mais intimamente dele! Que beleza! Vou empenhar-me na minha missão".


Ao acolher a boa moção não estou somente acolhendo a lembrança do passado, mas a interpretação dada pelo bom espírito. Ao afastar a má moção não estou reprimindo e abafando o pensamento da lembrança do acontecido, mas descartando a interpretação dada pelo mau espírito.


Com base, portanto, numa lembrança, num sentimento, e até numa palavra bíblica, como "causa precedente", diria Santo Inácio, pode brotar uma moção tanto do bom como do mau espírito. "Tanto o bom anjo quanto o mau podem consolar com causa precedente". EE 331. Será preciso então examinar o contexto da moção: os sentimentos ou o estado de paz ou de perturbação em que me encontrava quando ela se originou, sua repercussão afetiva me levando à paz e alegria profunda ou, pelo contrário, à perturbação e desassossego. Só assim poderei discerni-la se do bom ou do mau espírito.


Sem causa precedente, ou sem nenhum pensamento ou sentimento que desse origem a uma moção, somente Deus, o Senhor, pode atuar. Toda moção sem causa precedente é, portanto, sempre de Deus. "Somente Deus nosso Senhor dá consolação a uma pessoa sem causa precedente" EE 330.


Resumindo e esquematizando a noção de moções espirituais


S. Inácio, ao falar do Exame Geral de Consciência no livrinho dos EE (EE 32), pressupõe existir em nós três espécies de pensamentos.


"Pressuponho haver em mim três pensamentos, a saber:

um meu próprio, que provém simplesmente de minha liberdade e querer,
e outros dois que vêm de fora: um proveniente do bom espírito e outro do mau." (EE32)

As moções espirituais são, pois, justamente estes pensamentos que vêm de fora e nos atraem ou nos movem a agir segundo Deus (o nosso fim último) ou em oposição a ele.
Destaquemos os quatro elementos que constituem as moções:

- São pensamentos

- Que brotam ou vêm de fora

- Levam-nos a agir

- No nível da orientação profunda do homem, qualificando nossas ações como intencionadas por
Deus e para Deus ou em oposição a ele.


Numa terminologia técnica (aproveitando o pensamento do Pe. João A.Mac Dowell em: "Nota sobre as noções de "moção", "consolação" e "desolação" nos Exercícios Espirituais", em Itaici Cadernos de Espiritualidade Inaciana, 1, pág. 23-53) poderíamos dizer que as moções espirituais são pensamentos considerados no nível fenomenológico-existencial, que chamamos "espiritual". No âmbito em que as coisas são qualificadas não pelo que são abstratamente, mas como são na realidade existencial, inclusive no seu aspecto subjetivo, intencional.


As moções podem ter origem com uma "causa precedente" ou acontecerem sem "causa precedente". Com causa precedente podem ser provocadas pelo bom ou pelo mau espírito. Sem causa precedente somente por Deus!


"Consolação" e "desolação" espirituais

As moções de Deus ou do inimigo, embora sejam pensamentos que surgem na mente humana, quando acolhidas ou rejeitadas pela liberdade humana, têm uma repercussão no âmbito afetivo. Quando provenientes de Deus e seus anjos produzem no fundo da consciência, (poderíamos dizer também do coração), sentimentos profundos de paz, de alegria, de unificação da personalidade, de encontro consigo mesmo e com Deus. Porém, pelo contrário, quando originadas do inimigo, produzem sentimentos opostos, de perturbação, de tristeza, de desesperança, de intranqüilidade, de afastamento de Deus e de falta de fé. Santo Inácio designa estes sentimentos como "sentimentos espirituais", ou, já, qualificando-os, chama-os de "consolação" quando produzidos pelas boas moções e de "desolação", quando fruto das más moções.


Notemos que há níveis de maior ou menor profundidade nos sentimentos espirituais, ou nas experiências espirituais, e conseqüentemente, níveis de maior ou menor consolação ou desolação espiritual. São fenômenos no âmbito da mística, de diversas intensidades. Sempre gratuitos; não originados pura e exclusivamente da liberdade humana, mas que por ela podem ser acolhidos ou rejeitados, com resultados opostos.


Importância da atenção às moções e da correta atuação diante delas


A atenção às moções e a atuação correta diante delas é fundamental no agir da pessoa humana para garantir qualidade de vida. Uma vida humana que se desenvolvesse sem a consciência explícita da existência das moções dos bons e dos maus espíritos, embora muitas vezes tenha sido influenciada pelas mesmas, estaria fadada ao fracasso profundo no uso da sua liberdade. Ignorando a atenção aos apelos que lhe vêm de fora a pessoa humana vai construir sua vida jogando sua liberdade e querer ao encontro de projetos, fruto de suas criações intelectuais, emotivas ou imaginativas, ou fruto de propostas ideológicas. Em ambos os casos, correndo claro risco de não responder às tendências profundas de seu ser e ao caminho único de sua liberdade. A pessoa humana não seria realmente livre, pois, ou seguiria cegamente, sem discernir com sabedoria as propostas que lhe são apresentadas por outros seres humanos, os gurus da vida, ou suas próprias elucubrações intelectuais, imaginativas ou frutos de seus impulsos desordenados.
Ora, a pessoa humana é chamada a se superar a si mesma. É um ser relacionado, um ser-resposta, heterônomo.


Sua realização acontece não quando busca cegamente exclusivamente valores ou se entrega alucinadamente à procura de sensações, mas somente quando, discernindo e descartando prontamente as propostas falazes do inimigo, responde reta e generosamente à proposta de Quem, e do Único, que, gratuita e amorosamente, pode e lhe quer oferecer a vida em plenitude. Cabe, contudo, à própria pessoa perceber estes "movimentos", distingui-los se do bom ou mau espírito, acolher os do bom, repelir ou descartar os do mau espírito.

Importância dos estados de consolação e desolação para o discernimento orante.

A boa moção e a consolação verdadeira são sempre de Deus.

A má moção, a desolação e a consolação enganosa (que principia aparentemente boa, mas depois se manifesta como do mau espírito) são sempre do mau espírito.

A verdadeira consolação espiritual é sempre graça, abundância de graças, dom de Deus.

Manifesta uma significativa presença de Deus em nós.
A desolação espiritual manifesta a presença do inimigo. Nunca é provocada diretamente por Deus.

Na consolação, estando Deus mais presente em nós, somos mais influenciados por ele. Ele nos move e nos atrai, nos aconselha delicadamente para realizarmos os seus desejos, os seus planos a nosso respeito. Podemos, assim, discernir a sua vontade.

Na desolação, pelo contrário, é mais o mau espírito que nos envolve, nos aconselha, nos atrai e nos leva a realizar os seus planos a nosso respeito.

No discernimento orante, pois, quando pela oração percebemos mais intensamente a presença do bom ou do mau espírito, podemos perceber as atrações, as moções, os conselhos de um ou do outro. Vamos ficar atentos a quem nos aconselha, de onde provem o conselho ou a atração.


Se provem do bom espírito, presente abundantemente na consolação, a acolhemos, mesmo sem examinar o seu conteúdo. Pois provém do bom espírito, é de Deus que não nos engana. De Deus só pode vir coisa boa! Seria uma ofensa querer examinar o que ele está nos propondo para vermos se vale a pena. Com Deus não se regateia. Vamos segui-lo e acolhê-lo mesmo loucamente. Podemos, sim, verificar e confirmar se brotou mesmo quando da presença do bom espírito.


Se provier do mau espírito, nem examinamos o seu conteúdo, a afastamos. Do mau espírito não pode vir coisa boa. Não se conversa, não se dá atenção ao mau espírito. Descarta-se. Ele é mentiroso e está embriagadamente nos desejando o mal.


Na anotação 15ª Santo Inácio indica que o que dá os exercícios não deve induzir o exercitante mais a uma parte que a outra das possibilidades, como, por exemplo, à vida religiosa ou ao matrimônio, porque é melhor que o "mesmo Criador e Senhor se comunique à sua alma devota, abrasando-a em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor poderá servi-lo depois" (EE 15).


A missão, o papel ou a função de quem dá os exercícios não é dar conselhos ou receitas e sim ajudar para que o encontro entre o Senhor e o exercitante aconteça. Neste encontro íntimo o Senhor vai indicar ao exercitante a sua missão manifestando os seus desejos a seu respeito.
No discernimento orante, é pois, muito importante perceber de onde provêm os pensamentos, os desejos, os apelos. Se de um estado de maior ou menor consolação ou, ao contrário, de um estado de maior ou menor desolação. Não é o caso de se examinar o conteúdo, ou a proposição dos apelos ou desejos. Não estamos fazendo um discernimento racional, mas orante.



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Vamos também distinguir a verdadeira consolação espiritual da consolação meramente sensível ou de uma consolação voluntaristicamente fabricada. Hoje, com a enorme pressão exercida pelos meios de comunicação social (especialmente TV e rádio) esta tarefa se torna duplamente delicada... . "Tudo se fabrica" e esta é uma tentação de "espiritualidade barata" presente hoje até em grupos da Igreja!


Muitas pessoas são orientadas para fazerem a Revisão da Oração destacando as frases que mais tocaram, os sentimentos, os apelos e as resistências. Julgamos imprescindível relacionar os apelos com os sentimentos ou estados de consolação ou desolação. O mesmo apelo, ou a mesma proposição, dependendo da sua origem (se origina num estado de consolação ou de desolação) poderá ser do bom ou do mau espírito. Julgamos também mais inaciano procurar perceber para onde o Senhor está atraindo ou movendo, do que falar de apelos do Senhor.


Vamos discernir a vontade de Deus, que certamente é racional, embora muitas vezes não a possamos captar ou entender totalmente.


A oposição ou contrariedade entre os espíritos bom e mau.


Inácio de Loyola atentamente observando suas experiências espirituais notou que o mau espírito atrai ou move a pessoa justamente na direção oposta à que o bom espírito a está movendo ou atraindo. Se o bom espírito está atraindo a pessoa para a direção sul, o mau espírito vai atraí-la justamente para a direção norte. Se o bom espírito está movendo a pessoa para entrar na vida religiosa o mau espírito vai colocar obstáculos justamente para a realização deste desejo e atraí-la para a vida matrimonial. Há, pois, uma contradição entre o modo de agir dos espíritos.


Neste contexto podemos entender o célebre axioma inaciano: "agir contra". Trata-se de agir na direção oposta à indicada pela tentação; assim agindo, você estará indo ao encontro do Senhor. Se você é tentado e sente preguiça e corpo mole para ir a um ofício religioso, procure agir contra a tentação, na direção oposta à tentação, procurando ir logo ao ofício religioso, chegando até um pouco antes, colocando-se nos primeiros bancos e se oferecendo, se houver oportunidade, para participar mais ativamente. Certamente você sentirá uma consolação especial, você agindo contra a tentação está caminhando na direção ao encontro com o Senhor Jesus.


fonte : Jesuitas

10 de jul. de 2008

A coerência entre oração e vida

Autor: Pe. Valdo Bartolomeu de Santana

TUA VIDA FALA TÃO ALTO QUE NÃO CONSIGO OUVIR TUAS PALAVRAS”

É certo que, quanto mais limpa e comprometidamente se viva a vocação cristã, tanto mais fácil se tornará o exercício da oração àqueles que não têm capacidade para discorrer sobre os mistérios da fé. Mas, em linha de verdade, cada dificuldade afeta profundamente a todos, porque surge da própria essência da oração, concebida como amizade. Ser amigo para tornar praticável o fazer
amizade.

Nos dez primeiros capítulos da Autobiografia de Santa Teresa de Ávila, sobressai uma afirmação clara: a oração, a que se entregou, sem dúvida, com decisão, não consegue conquistar a sua vida. Pelo menos, na medida das exigências mais elementares da amizade: doação totalitária, não pactuar com a mediocridade.

A oração reduzia-se a uns tempos, mais ou menos longos, e até mais ou menos intensos, de trato amistoso com Deus. Reconhece com simplicidade que “as suas determinações e desejos – por aquele momento, digo – estavam firmes”. Determinações de ser, de corresponder ao amor com amor. Mas não tinha continuidade.


“Não bastavam determinações”para não voltar a cair quando me punha na ocasião. Conclui, com razão: “Pareciam-me ser lágrimas enganosas”. Por quê? Dá no alvo quando escreve: “todo o mal vinha de eu não cortar pela raiz as ocasiões”. Concretamente, em guardar todo o seu amor para Deus. “Com isto se remediava tudo.


” Porque andava escrava. Sobre isto não faltava luz à sua consciência. “E quão atada me via para não me determinar a dar-me de todo a Deus”. Optou pelo caminho da “maioria”: rebaixar o nível de exigências, contemporizando com os pedidos da natureza. Exprime-se assim: “Parecia-me melhor ainda andar com os demais - ... – e rezar o que estava obrigada, e vocalmente, e não ter oração mental e tanto trato com Deus.


Quando exortar os seus discípulos a darem-se incondicionalmente e com totalidade, se querem chegar à contemplação, isto é, a uma verdadeira e íntima união com Deus, apresentará o seu testemunho: “Assim, pois, filhas, se quereis que vos diga o caminho para chegar à contemplação...” empenhai-vos na reforma da vossa vida – “prática de virtudes”- , caso contrário, “eu vos asseguro e a todas as pessoas que pretendem este bem ( e bem pode ser que me engane, porque julgo por mim que o procurei vinte anos), que não chegareis à verdadeira
contemplação”. Fecha o caminho da oração quem não se conforma às exigências do amor.


Teresa de Jesus fazia oração. Muita. As monjas viam-na apartar-se “muitas vezes à solidão a rezar e ler muito”.Mas não vivia a oração. Consagrava-lhes tempos, mas não era orante. Não há motivos para continuar a descrever do que se trata e até onde chegou Teresa pelo “caminho da maioria”.


O que importa é saber que se trata de presenças não integradas na Presença. Ainda mais: presenças rivais que a dividem e põem em tensão, que não lhe deixam o coração inteiro
para o Amigo, livre para Ele.


Fala-nos de experiência de “ataduras”, “escravidão”, “cegueira”. De querer “tratar com Deus e com o mundo”. Empresa impossível, a luta titânica por “juntar estes dois contrários, tão inimigos um do outro, como são vida espiritual e contentos e gostos e passatempos sensíveis”. Com frase insuperável: “Procurava... ter oração e viver a meu bel-prazer”. Exercício de oração não sustentado pela vida. O resultado era desolador: “Nem gozava de Deus nem achava contentamento no mundo”. Uma situação assim não pode sustentar-se por muito tempo. A oração não ganha a vida.


E a vida começa a minar a oração. A corda sempre se quebra pelo lado mais fraco. E, no caso de Teresa, o lado mais fraco era a oração. E por aí se quebrou. O abandono da oração arrastou consigo toda a vida. É a altura em que a vida espiritual de Teresa atinge o nível mais baixo.


A vida é sempre o termômetro da oração que existe e da oração que falta. O abandono da oração precipita o desmoronamento espiritual de Teresa, como edifício em ruínas a que se tiram as escoras que o sustenta. Confessará humilde e assustada: “Este foi o mais terrível engano”; “julgo não ter passado perigo tão perigoso”. A sua confissão é uma advertência: que ninguém a siga por este caminho. Que ninguém abandone a oração por ruim e pecador que seja. “Deixar a oração é perder o caminho”. A vida ruim não deve levar ao abandono da oração mas à sua intensificação.


Argumento de muitos para o não orar: Amo a Deus mas não tenho tempo para orar. É como se um esposo dissesse à esposa: eu a amo, trabalho o dia todo por ti, mas não tenho tempo para escuta-la, para olha-la, para abraça-la, para estar com você...” É preciso para estar a sós com Deus.


Em uma vida de oração é necessário momentos de oração. Dar algumas
paradas com flashes de oração.

A espiritualidade do trabalho é imprescindível numa vida de oração. Faze tudo com amor é estar em comunhão com Deus.


Extraído do livro “oração, uma história de amizade”, de Maximiliano Herraz Garcia, ed. Loyola.pp 35- 42

Pensamentos sobre Nossa Senhora


(por São José Maria Escrivá)


Como gostam os homens de que Ihes recordem o seu parentesco com personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!... – Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-Lhe: Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu, só Deus! (Caminho, 496 )



De uma maneira espontânea, natural, surge em nós o desejo de conviver com a Mãe de Deus, que é também nossa mãe; de conviver com Ela como se convive com uma pessoa viva, porque sobre Ela não triunfou a morte; está em corpo e alma junto a Deus Pai, junto a seu Filho, junto ao Espírito Santo.



Para compreendermos o papel que Maria desempenha na vida cristã, para nos sentirmos atraídos por Ela, para desejar a sua amável companhia com filial afeto, não são precisas grandes especulações, embora o mistério da Maternidade divina tenha uma riqueza de conteúdo sobre a qual nunca refletiremos bastante.



A fé católica soube reconhecer em Maria um sinal privilegiado do amor de Deus. Deus chama-nos, já agora, seus amigos; a sua graça atua em nós, regenera-nos do pecado, dá-nos forças para que, entre as fraquezas próprias de quem é pó e miséria, possamos refletir de algum modo o rosto de Cristo. Não somos apenas náufragos que Deus prometeu salvar; essa salvação já atua em nós. A nossa relação com Deus não é a de um cego que anseia pela luz mas que geme entre as angústias da obscuridade; é a de um filho que se sabe amado por seu Pai.



Dessa cordialidade, dessa confiança, dessa segurança, nos fala Maria. Por isso o seu nome vai tão direito aos nossos corações. A relação de cada um de nós com a nossa própria mãe pode servir-nos de modelo e de pauta para a nossa intimidade com a Senhora do Doce Nome, Maria. Temos de amar a Deus com o mesmo coração com que amamos os nossos pais, os nossos irmãos, os outros membros da nossa família, os nossos amigos ou amigas. Não temos outro coração. E com esse mesmo coração havemos de querer a Maria.



Como se comporta um filho ou uma filha normal com a sua Mãe? De mil maneiras, mas sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio, mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena delicadeza, umas palavras expressivas...



Nas nossas relações com a nossa Mãe do Céu, existem também essas normas de piedade filial, que são modelo do nosso comportamento habitual com Ela. Muitos cristãos tornam seu o antigo costume do escapulário; ou adquirem o hábito de saudar (não são precisas palavras; o pensamento basta) as imagens de Maria que há em qualquer lar cristão ou que adornam as ruas de tantas cidades; ou dão vida a essa oração maravilhosa que é o Terço, em que a alma não se cansa de dizer sempre as mesmas coisas, como não se cansam os enamorados, e em que se aprende a reviver os momentos centrais da vida do Senhor; ou então habituam-se a dedicar à Senhora um dia da semana – precisamente este em que estamos reunidos: o sábado – oferecendo-lhe alguma pequena delicadeza e meditando mais specialmente na sua maternidade. (Cristo que passa, 142 )