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10 de jan. de 2008

Espiritualidade Carmelitana


A coerência entre oração e a vida
Autor: Pe. Valdo Bartolomeu de Santana


“TUA VIDA FALA TÃO ALTO QUE NÃO CONSIGO OUVIR TUAS PALAVRAS”


É certo que, quanto mais limpa e comprometidamente se viva a vocação cristã, tanto mais fácil se tornará o exercício da oração àqueles que não têm capacidade para discorrer sobre os mistérios da fé. Mas, em linha de verdade, cada dificuldade afeta profundamente a todos, porque surge da própria essência da oração, concebida como amizade. Ser amigo para tornar praticável o fazer amizade.

Nos dez primeiros capítulos da Autobiografia de Santa Teresa de Ávila, sobressai uma afirmação clara: a oração, a que se entregou, sem dúvida, com decisão, não consegue conquistar a sua vida. Pelo menos,na medida das exigências mais elementares da amizade: doação totalitária, não pactuar com a mediocridade. A oração reduzia-se a uns tempos, mais ou menos longos, e até mais ou menos intensos, de trato amistoso com Deus. Reconhece comsimplicidade que “as suas deter-minações e desejos – por aquele momento, digo – estavam firmes”. Determinações de ser, de corres-ponder ao amor com amor. Mas não tinha continuidade. “Não bastavam determinações”para não voltar a cair quando me punha na ocasião. Conclui, com razão: “Pareciam-me ser lágrimas enganosas”.

Por quê? Dá no alvo quando escreve: “todo o mal vinha de eu não cortar. Concretamente, em guardar todo o seu amor para Deus. “Com isto se remediava tudo.” Porque andava escrava. Sobre isto não faltava luz à sua consciência. “E quão atada me via para não me determinar a dar-me de todo a Deus”. Optou pelo caminho da “maioria”: rebaixar o nível de exigências, contemporizando com os pedidos da natureza. Exprime-se assim: “Parecia-me melhor ainda andar com os demais - ... – e rezar o que estava obrigada, e vocalmente, e não ter oração mental e tanto trato com Deus”.

Quando exortar os seus discípulos a darem-se incondicionalmente e com totalidade, se querem chegar à contemplação, isto é, a uma verdadeira e íntima união com Deus, apresentará o seu testemunho: “Assim, pois, filhas, se quereis que vos diga o caminho para chegar à contemplação...” empenhai-vos na reforma da vossa vida – “prática de virtudes”- , caso contrário, “eu vos asseguro e a todas as pessoas que pretendem este bem ( e bem pode ser que me engane, porque julgo por mim que o procurei vinte anos), que não chegareis à verdadeira contemplação”. Fecha o caminho da oração quem não se conforma às exigências do amor.

Teresa de Jesus dedicava-se à oração. Muita oração. As monjas viam-na apartar-se “muitas vezes à solidão a rezar e ler muito”.Mas não vivia a oração (fato relacionado à sua vida, antes da Reforma). Consagrava-lhes tempos, mas não era orante. Não há motivos para continuar a descrever do que se trata e até onde chegou Teresa pelo “caminho da maioria”.

Fala-nos de experiência de “ataduras”,“escravidão”, “cegueira”. De querer “tratar com Deus e com o mundo”. Coisa impossível, a luta titânica por “juntar estes dois contrários, tão inimigos um do outro, como são vida espiritual e contentos e gostos e passatempos sensíveis”.

Com frase insuperável: “Procurava... ter oração e viver a vida. O resultado era desolador: “Nem gozava de Deus nem achava contentamento no mundo”. Uma situação assim não pode sustentar-se por muito tempo. A oração não ganha a vida. E a vida começa a minar a oração. A corda sempre se quebra pelo lado mais fraco. E, no caso de Teresa, o lado mais fraco era a oração.E por aí se quebrou. O abandono da oração arrastou consigo toda a vida. É a altura em que a vida espiritual de Teresa atinge o nível mais baixo.

A vida é sempre o termômetro da oração que existe e da oração que falta. O abandono da oração precipita o desmoronamento espiritual de Teresa, como edifício em ruínas a que se tiram as escoras que o sustêm. Confessará humilde e assustada:

“Este foi o mais terrível engano”; “julgo não ter passado perigo tão perigoso”. A sua confissão é uma advertência: que ninguém a siga por este caminho. Que ninguém abandone a oração por ruim e pecador que seja. “Deixar a oração é perder o caminho”. A vida ruim não deve levar ao abandono da oração mas à sua intensificação.

Peçamos a Nossa Senhora do Carmo a graça da nossa perseverança no caminho da oração, para sermos bons e fiéis irmãos e irmãs terceiros carmelitas. Salve Maria !