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10 de jul. de 2008

A coerência entre oração e vida

Autor: Pe. Valdo Bartolomeu de Santana

TUA VIDA FALA TÃO ALTO QUE NÃO CONSIGO OUVIR TUAS PALAVRAS”

É certo que, quanto mais limpa e comprometidamente se viva a vocação cristã, tanto mais fácil se tornará o exercício da oração àqueles que não têm capacidade para discorrer sobre os mistérios da fé. Mas, em linha de verdade, cada dificuldade afeta profundamente a todos, porque surge da própria essência da oração, concebida como amizade. Ser amigo para tornar praticável o fazer
amizade.

Nos dez primeiros capítulos da Autobiografia de Santa Teresa de Ávila, sobressai uma afirmação clara: a oração, a que se entregou, sem dúvida, com decisão, não consegue conquistar a sua vida. Pelo menos, na medida das exigências mais elementares da amizade: doação totalitária, não pactuar com a mediocridade.

A oração reduzia-se a uns tempos, mais ou menos longos, e até mais ou menos intensos, de trato amistoso com Deus. Reconhece com simplicidade que “as suas determinações e desejos – por aquele momento, digo – estavam firmes”. Determinações de ser, de corresponder ao amor com amor. Mas não tinha continuidade.


“Não bastavam determinações”para não voltar a cair quando me punha na ocasião. Conclui, com razão: “Pareciam-me ser lágrimas enganosas”. Por quê? Dá no alvo quando escreve: “todo o mal vinha de eu não cortar pela raiz as ocasiões”. Concretamente, em guardar todo o seu amor para Deus. “Com isto se remediava tudo.


” Porque andava escrava. Sobre isto não faltava luz à sua consciência. “E quão atada me via para não me determinar a dar-me de todo a Deus”. Optou pelo caminho da “maioria”: rebaixar o nível de exigências, contemporizando com os pedidos da natureza. Exprime-se assim: “Parecia-me melhor ainda andar com os demais - ... – e rezar o que estava obrigada, e vocalmente, e não ter oração mental e tanto trato com Deus.


Quando exortar os seus discípulos a darem-se incondicionalmente e com totalidade, se querem chegar à contemplação, isto é, a uma verdadeira e íntima união com Deus, apresentará o seu testemunho: “Assim, pois, filhas, se quereis que vos diga o caminho para chegar à contemplação...” empenhai-vos na reforma da vossa vida – “prática de virtudes”- , caso contrário, “eu vos asseguro e a todas as pessoas que pretendem este bem ( e bem pode ser que me engane, porque julgo por mim que o procurei vinte anos), que não chegareis à verdadeira
contemplação”. Fecha o caminho da oração quem não se conforma às exigências do amor.


Teresa de Jesus fazia oração. Muita. As monjas viam-na apartar-se “muitas vezes à solidão a rezar e ler muito”.Mas não vivia a oração. Consagrava-lhes tempos, mas não era orante. Não há motivos para continuar a descrever do que se trata e até onde chegou Teresa pelo “caminho da maioria”.


O que importa é saber que se trata de presenças não integradas na Presença. Ainda mais: presenças rivais que a dividem e põem em tensão, que não lhe deixam o coração inteiro
para o Amigo, livre para Ele.


Fala-nos de experiência de “ataduras”, “escravidão”, “cegueira”. De querer “tratar com Deus e com o mundo”. Empresa impossível, a luta titânica por “juntar estes dois contrários, tão inimigos um do outro, como são vida espiritual e contentos e gostos e passatempos sensíveis”. Com frase insuperável: “Procurava... ter oração e viver a meu bel-prazer”. Exercício de oração não sustentado pela vida. O resultado era desolador: “Nem gozava de Deus nem achava contentamento no mundo”. Uma situação assim não pode sustentar-se por muito tempo. A oração não ganha a vida.


E a vida começa a minar a oração. A corda sempre se quebra pelo lado mais fraco. E, no caso de Teresa, o lado mais fraco era a oração. E por aí se quebrou. O abandono da oração arrastou consigo toda a vida. É a altura em que a vida espiritual de Teresa atinge o nível mais baixo.


A vida é sempre o termômetro da oração que existe e da oração que falta. O abandono da oração precipita o desmoronamento espiritual de Teresa, como edifício em ruínas a que se tiram as escoras que o sustenta. Confessará humilde e assustada: “Este foi o mais terrível engano”; “julgo não ter passado perigo tão perigoso”. A sua confissão é uma advertência: que ninguém a siga por este caminho. Que ninguém abandone a oração por ruim e pecador que seja. “Deixar a oração é perder o caminho”. A vida ruim não deve levar ao abandono da oração mas à sua intensificação.


Argumento de muitos para o não orar: Amo a Deus mas não tenho tempo para orar. É como se um esposo dissesse à esposa: eu a amo, trabalho o dia todo por ti, mas não tenho tempo para escuta-la, para olha-la, para abraça-la, para estar com você...” É preciso para estar a sós com Deus.


Em uma vida de oração é necessário momentos de oração. Dar algumas
paradas com flashes de oração.

A espiritualidade do trabalho é imprescindível numa vida de oração. Faze tudo com amor é estar em comunhão com Deus.


Extraído do livro “oração, uma história de amizade”, de Maximiliano Herraz Garcia, ed. Loyola.pp 35- 42

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