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11 de set. de 2008

Mês da Bíblia com Santa Terezinha


SANTA TERESINHA E O MENINO JESUS


Desde muito cedo Teresa Martin iniciou sua devoção ao Menino Jesus. Aos seis anos e meio, começa a se preparar para a primeira comunhão, sendo catequizada por sua irmã Paulina. Graças a esta catequese, o amor ao Menino Jesus vai aumentando em seu coração. Ao falar deste período, nossa santa afirma que "amava-o muito" (A 31v).



Não é, pois, de se estranhar que à época de seu primeiro chamado à vida carmelitana, tenha aceitado com entusiasmo a proposta de Madre Gonzaga de se chamar "Teresa do Menino Jesus" quando ingressasse no Carmelo. Após prepará-la para a primeira comunhão, Paulina, já Irmã Inês de Jesus no Carmelo de Lisieux, convida a menina a considerar sua alma como um jardim de delícias no qual é preciso cultivar as flores de virtudes que Jesus virá colher em sua primeira visita.



No ano de 1887 se oferece ao Menino Jesus para ser seu brinquedo (A 64r), desejando abandonar-se sem reservas à sua misericórdia. Isto ocorre por ocasião da célebre audiência com o papa Leão XIII. Teresa esperava que o papa autorizasse sua entrada imediata no Carmelo, apesar da pouca idade. Enorme decepção! Recebe palavras ternas e não a resposta desejada. Por isso não fica perturbada. Não havia se oferecido para ser a "bolinha" de Jesus e não dissera que ele poderia fazer o que quisesse com ela?



A partir do dia 9 de abril de 1888, data de seu ingresso no Carmelo de Lisieux, Teresa pode, finalmente, realizar seu sonho de menina: assina suas cartas durante todo o postulantado como "Teresa do Menino Jesus" (Ct 46-79). No dia 10 de janeiro de 1889, dia em que recebe o hábito, assinará pela primeira vez "Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face", que será seu nome definitivo de Carmelita (Ct 80).



Quando entra na clausura, a primeira coisa que lhe chama a atenção é o sorriso de seu "Menino cor de rosa" (A 72v), que a acolhe. Ela se encarregará de colocar-lhe flores desde a Natividade de Maria: "era a Virgenzinha recém-nascida que apresentava sua florzinha ao Menino Jesus". (A 77r).



Teresa dedica muitas poesias, recreações piedosas e orações ao Menino Jesus, ao mistério do Natal e aos primeiros anos da infância de Cristo. No dia 21 de janeiro de 1894 cria e oferece à Madre Inês, em sua primeira festa como priora, uma pintura a óleo do Menino Jesus, a que intitula como "O sonho do Menino Jesus". Este quadro mostra o Menino Jesus de olhos abaixados, brincando com as flores que lhe são oferecidas. Ao fundo aparece sob a claridade da lua a Sagrada Face debaixo da cruz e cerca dos instrumentos da paixão.



Em uma carta enviada no mesmo dia (Ct 156), Teresa comenta seu quadro: longe de temer os sofrimentos futuros, o Menino Jesus conserva um olhar sereno e até sorri, pois sabe que sua esposa (Irmã Inês) permanecerá sempre ao seu lado para amá-lo e consolá-lo. Quanto aos olhos baixos, estes mostram sua atitude quanto à própria Teresa: "Ele está quase sempre dormindo". Neste último detalhe já vislumbramos uma prefiguração da grande prova de fé que irá acompanhá-la em seus últimos dias.



Nos finais de 1894, a jovem carmelita descobre sua "Pequena Via". A infância espiritual do cristão, feita de confiança e abandono, deverá se moldar na própria infância de Jesus, em seu caráter de Filho, tão particularmente representado nos traços de sua infância. No dia 7 de junho de 1897, Teresa se deixa fotografar, tendo nas mãos as estampas do Menino Jesus e da Sagrada Face. Sobre a imagem do Menino Jesus, conhecido como "de Messina", Teresa copia o versículo de Pr 9,4: "Quem for pequenino, venha a mim".

SANTA TEREZINHA E A SAGRADA ESCRITURA

Santa Teresinha viveu numa época em que era difícil o acesso à Bíblia. Os meios para conhecê-la eram limitados e as traduções muito imperfeitas. Superado o racionalismo frio que dominou os estudos bíblicos a partir do século XVII, na época de Teresinha se desenvolveram, especialmente no campo protestante e em alguns círculos católicos, diversos métodos de análise literária que representaram grandes avanços na crítica literária e textual.
A aceitação pouco crítica do sistema filosófico e científico da época (idealismo hegeliano, positivismo, historicismo...) levou a uma série de hipóteses e interpretações intermináveis e, por fim, à inevitável separação entre exegese e teologia. Isto resultou no distanciamento cada vez maior entre exegetas, teólogos e o povo cristão. A Igreja Católica reagiu a este movimento, rejeitando todo método crítico de leitura da Bíblia. O Pe. Lagrange tentou coadunar a visão católica da Bíblia com a crítica racional, em 1903, mas seus projetos foram tolhidos pela Encíclica Pascendi, de Pio X, frente à crise modernista. Foi preciso esperar muitos anos para a Igreja assumir uma postura menos radical e apologética.

Neste contexto histórico, cheio de apreensões frente ao estudo crítico da Bíblia, no qual se tornava cada vez mais contundente a separação entre Bíblia e teologia ou entre Bíblia e vida espiritual, Teresa viverá uma experiência bíblica inédita: pela leitura e meditação freqüente da Escritura descobre a vontade de Deus em sua vida e a Palavra de Deus vai se transformando na fonte primeira de sua experiência espiritual.
Poucos anos após sua morte, os dominicanos abriram em Jerusalém, sob os auspícios do governo francês, a "École Biblique". Este foi o primeiro grande esforço da Igreja Católica do século XX para levar adiante um projeto científico de estudo e investigação de arqueologia e exegese bíblicas. Assim, outro sonho se acrescentava aos desejos de Santa Teresinha: ser exegeta: "Não é triste ver tantas diferenças de traduções da Sagrada Escritura? Se eu fosse sacerdote, não me contentaria com o latim, mas teria aprendido o hebraico e o grego, para assim conhecer o texto verdadeiro ditado pelo Espírito Santo". (CA 4.8.5).

Teresinha não foi uma exegeta, no sentido com o qual este termo é usado atualmente nos ambientes de estudos bíblicos, mas uma ouvinte privilegiada da Palavra, graças à atitude espiritual com a qual dela se aproximou. Em Teresa se cumpre a palavra de Jesus: as coisas escondidas aos sábios e entendidos são reveladas aos simples (Mt 11,25; Lc 10,21). O Reino de Deus pertence àqueles que se tornam semelhantes às crianças (Mc 10,4). Ela é verdadeira mestra da vida espiritual na leitura da Bíblia para a comunidade cristã.
Com sua ajuda, o evangelho se transforma, de livro escrito em livro de vida, de um relato do passado a evento que compromete e transforma hoje. Teresinha nos ensina a sintonizar nossa própria história com a história de Cristo. Soube interpretar a Escritura com sabedoria, originalidade, frescor e surpreendente claridade.

1. Três dimensões da Bíblia

Santa Teresinha lê a Bíblia em três dimensões: a) como luz que orienta; b) um acontecimento para o hoje; c) força que nos faz experimentar a presença de Deus.

a) A Bíblia é Luz

Teresa se aproxima do evangelho, a partir das diversas situações da vida, certa de que nele vai encontrar a luz necessária: "Acima de tudo, o que me sustenta durante a oração é o evangelho. Nele encontro tudo o que necessita minha pobre alma. Nele continuamente descubro novas luzes e sentidos ocultos e misteriosos". (Ms A 83v). Ela não inventou o evangelho e nos recorda que ele é tudo, que ele nos basta.
À medida que vai amadurecendo em sua vida espiritual e em seu horizonte vão surgindo novas situações e exigências, Teresa vai descobrindo no único evangelho, "novas luzes e sentidos ocultos". E confidencia: "Jesus me conduz a cada passo e me inspira o que devo dizer ou fazer.. Exatamente no momento em que preciso, descubro luzes onde até então havia me fixado". (Ms A 83v).

Para nossa santa, a Bíblia é luz, como afirma o Salmo 119,105: "tua palavra é lâmpada para meus passos, uma luz em meu caminho". No evangelho descobre continuamente "novas luzes" (Ms A 83 v); nele encontra um caminho seguro para conhecer e seguir a Jesus. Pensa no evangelho como "pegadas luminosas" que iluminam a vida para saber onde ir (cf. Ms C 26v). A Bíblia, para Teresinha, é uma luz tão forte que ilumina todas as dimensões da existência cristã: "Tomo nas mãos a Sagrada Escritura e então tudo fica claro para mim, uma única palavra abre minha alma a horizontes infinitos".
A Bíblia a ilumina em algo de capital importância: a possibilidade e a gratuidade da santidade: "Abro a Sagrada Escritura... e a perfeição me parece fácil" (Ct. 226).

Para Teresinha, a vida vem em primeiro lugar. Determinada situação lembra-lhe espontaneamente uma cena evangélica ou uma expressão de Jesus. Desta forma Teresa capta o sentido dos acontecimentos e os interpreta à luz da Palavra de Deus. No início de sua autobiografia justifica toda sua vida à luz de um versículo do evangelho de Marcos (Mc 3,13), quando afirma: "Eis o mistério de minha vocação, de toda minha vida, sobretudo o mistério dos privilégios com os quais Jesus dispensou a minha alma" (Ms A 2r).
Ela não se aproxima da Bíblia a partir do texto, mas a partir do que está vivendo concretamente. Quer interpretar e iluminar a vida com a ajuda da Bíblia, adquirindo assim uma atitude verdadeiramente contemplativa. Quando busca sua vocação, em meio ao combate entre desejos que se entrechocam, busca a resposta em uma carta de São Paulo (Ms B 3r). Quando deseja encontrar um elevador que a conduza a Jesus, nos diz: "busquei nos Livros Sagrados algum indício do ascensor" (Ms C 3r).

Teresinha interpreta a vida antes da Bíblia. Em muitas oportunidades a vemos buscando textos apropriados que possam iluminar situações bem concretas. Vejamos alguns exemplos. Escreve a Celina e diz: "Abrindo o evangelho, pedi a Jesus que eu encontrasse alguma passagem para ti. Veja o que encontrei..." (Ct 143); ao Pe. Roulland escreve: "Esta noite, na oração, meditei algumas passagens de Isaías que me parecem muito apropriadas para você. Não posso deixar de transcrevê-las" (Ct 193).
Alguns meses antes de sua morte, sabendo que no convento havia irmãs que a julgavam com severidade e outras que gostavam dela, deseja saber o que Jesus pensa a seu respeito. Vêem-lhe à mente alguns trechos do evangelho de João: "Quando voltava à minha cela, eu me perguntava sobre o que Jesus pensaria de mim. No mesmo instante me lembrei das palavras que um dia ele dirigiu à mulher adúltera: ´Ninguém te condenou´? E, com lágrimas nos olhos, respondi: ´Ninguém, Senhor´." (Ct 230).

Teresa busca o evangelho e compreende sua vida a partir de um novo prisma. Um método espontâneo, baseado no dinamismo da fé, da esperança e do amor, aproximando-se sempre do texto sagrado a partir de questões vitais.

b) A Bíblia não é livro do passado

Para Teresa o evangelho não é uma história do passado, mas evento que se atualiza em sua vida e na vida das outras pessoas. Contemplando Jesus no evangelho descobre que se repetem misteriosamente em sua história pessoal as situações por ele vividas, suas palavras e sentimentos.
Tem convicção de que Jesus está presente em sua vida. Tudo que ele disse ou fez é uma realidade permanentemente revivida pelos cristãos. A leitura teresiana do evangelho atinge seu auge quando Teresinha, através de sua resposta de fé, deixa que a história de Jesus se atualize na sua vida. As duas histórias se fundem e se identificam.

Ela se apropria das palavras de Jesus, citando-as na primeira pessoa. Transcreve o capítulo 17 do evangelho de João, como se lhe pertencesse, com liberdade e audácia surpreendentes, adaptando-o à sua situação: salta versículos, reorganiza-os, muda palavras, etc. Depois, comenta: "Estou assombrada com o que acabo de escrever, pois não tinha intenção de fazê-lo. Mas, como está escrito, tem de ficar" (MC 35r). Escreveu impelida pelo amor que a une a Jesus. Sua audácia é a de uma criança que sente como seu o que pertence ao pai. Por isso repete as palavras do pai como se fossem suas.

Teresa deixa-se arder com os mesmos sentimentos de amor que arderam em Jesus. Isto se torna claro em seus comentários a respeito da sede de Jesus na cruz (Jo 19,28) e sobre o pedido de Jesus à samaritana em Jo 4,7: "dá-me de beber". Com relação à sede de Jesus na cruz, ela comenta: "Continuamente ressoava em meu coração o grito de Jesus na cruz: ´Tenho sede´. Estas palavras acendiam em mim um ardor desconhecido e muito vivo... Queria dar de beber a meu Amado, e eu me sentia devorada pela sede de almas". (M A 45v; cf. M A 46v; PN 24,10).
c) A Bíblia é força

Para santa Teresinha a Bíblia tem uma terceira dimensão: é força que nos leva a experimentar Deus. A Bíblia não traz apenas uma mensagem que se capta pela razão. É também força, consolação, boa notícia, que se acolhe no coração. Na Bíblia se revela a presença libertadora e consoladora de Deus. Esta convicção de fé é fonte de fortaleza e consolo em meio às lutas cotidianas.

Santa Teresinha confessa que o evangelho "a sustenta durante a oração" e, quando se vê impotente, a Sagrada Escritura "vem em seu socorro" (Ms A 83v). Quando descobre "o ascensor" em dois textos do Antigo Testamento, confidencia: "nunca palavras tão formosas e melodiosas alegraram minha alma" (Ms C 3r); e, quando encontra num texto da 1a. carta aos Coríntios, que completa seus desejos e responde à sua busca, exclama: "Podia, enfim, descansar" (Ms B 3v). A terminologia usada pela santa nos ajuda a perceber sua experiência da Bíblia enquanto força. A Palavra a sustenta, ajuda, provoca-lhe uma alegria indizível, oferece-lhe descanso.

2. Um método simples para ler e orar a Bíblia

O método bíblico-teresiano é muito simples: parte da vida, chega diretamente ao texto e o faz em atitude orante para encontrar uma nova luz onde antes não havia. um exemplo concreto, tirado dos Cadernos Amarelos, mostra como Teresinha lê a Bíblia. (CA 21/26.5.11). Madre Inês lhe dissera algumas palavras carinhosas, afirmando que tudo em Teresinha lhe agradava.
As palavras de Madre Inês a deixam perturbada: "Eu já estava comovida, mas, continuando a pensar que o seu amor fazia-a ver o que não é, eu não conseguia saborear plenamente". Teresinha está tomada de desarmonia e incerteza. Diante deste impasse, vai ao Evangelho: "aí, peguei meu pequeno evangelho". Este é o segundo momento: o contato direto com o texto bíblico a partir de uma experiência de vida. Teresa acrescenta um terceiro momento à sua leitura: "pedindo ao bom Deus que me consolasse, respondendo ele mesmo..." Ela lê a Bíblia orando.
Lembra-nos que a escuta de Deus não depende de nós, mas exclusivamente dele, de sua decisão gratuita e soberana em se comunicar conosco e possibilitar que escutemos sua voz. Sem a graça do Espírito a Bíblia é um livro fechado. Após orar, Teresa pousou os olhos num trecho "que nunca me havia chamado a atenção e então derramei lágrimas de alegria". Havia encontrado a resposta (Jo 3,34): "Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; o dom do Espírito é, na verdade, sem medida". Ela compreende que Madre Inês havia sido enviada por Deus e que dizia a verdade.

Resumindo, então. São três momentos: experiência de vida, contato direto com o texto, oração e descoberta de uma nova luz. As situações que impulsionam Teresa a buscar luz na Bíblia são muitas. Basta folhear seus escritos para encontrá-las: incerteza, desejos não realizados, escuridão, novas experiências, etc. Ela confessa seu contato direto com a Bíblia em diversas ocasiões. São conhecidas suas expressões: "Abrindo o evangelho, meus olhos se depararam com estas palavras" (A 2r); "pegando o evangelho" (Ct 143); "deparei com esta passagem" (Ct 193); "tomo em minhas mãos a Sagrada Escritura" (Ct. 226); etc.
Sabe deter-se no texto e ler atentamente. Bastaria que citássemos seu comentário sobre a passagem de Zaqueu (Ct 137), onde o verbo "descer" lhe dá a chave de leitura de todo o texto; mesmo quando fala do novo mandamento do amor (MC 12r), sua insistência na expressão "como Jesus" dá unidade à sua leitura. Isto demonstra uma delicada capacidade de leitura e uma atenção especial aos detalhes e termos mais significativos do texto. Quando pega o texto bíblico, "pede a Jesus encontrar uma passagem" apropriada à sua situação ou à de outras pessoas (Ct 143). Isto é, termina orando e dialogando com Jesus depois de ler a Bíblia, fundindo sua palavra de oração com a palavra bíblica(cf. Ct 230).

Vida, texto, oração e nova luz. Passos de uma forma de leitura bíblica simples e pessoal. Primeiro passo: escutar a vida. Segundo passo: pegar a Bíblia e lê-la atentamente para encontrar luz e força. Terceiro passo: fazê-lo em oração, pedindo a graça da escuta. Quarto passo: viver a experiência da transformação que opera a Palavra e viver obedientemente o que Deus nela revela.

Traduzido de http://members.tripod.com/debarim/teresitbibl