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31 de jul. de 2008

Espiritualidade de Santo Inácio de Loyola


MOÇÕES, CONSOLAÇÕES E DESOLAÇÕES ESPIRITUAIS


"Moções", "consolações" e "desolações" são nomes dados por Santo Inácio de Loyola a diversos sentimentos experimentados por ele no seu leito de convalescente e depois, em momentos dedicados à oração e mesmo no decorrer do seu cotidiano. Ele costumava anotar estas observações num caderninho de apontamentos. Daí se originou o seu livrinho dos "Exercícios Espirituais". O desejo de Santo Inácio era o de auxiliar outras pessoas a caminharem na sua própria vida reagindo corretamente a estes diversos sentimentos produzidos pelos diversos espíritos, ou seja, a caminharem na sua vida de cada dia atentos à dimensão tão importante da espiritualidade do ser humano.




Lembremo-nos que para Sto. Inácio "os Exercícios Espirituais (EE) são o melhor que nesta vida eu posso pensar, sentir e entender, tanto para a pessoa poder aproveitar para si própria, como para poder frutificar, ajudar e aproveitar para muitos outros" (Carta a Manuel Miona, Veneza, 16 de novembro de 1536).


"Os EE têm transformado muitos corações e muitas vidas... Pessoalmente estou convencido de que não podemos oferecer coisa melhor". Carta do P. Peter-Hans Kolvenbach, Superior Geral da Companhia de Jesus, a todas as pessoas relacionadas com a mesma Companhia de Jesus, aos 27/09/91, Coleção Ignatiana, n.37, pg.19.

Moções Espirituais

As célebres "moções espirituais" dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola são pensamentos que vêm de fora, não têm origem no próprio querer e liberdade da pessoa, movem a pessoa a agir e deixam ou produzem, também, uma repercussão afetiva. Originam-se do próprio Deus e dos seus bons espíritos ou, ao contrário, dos instintos egoístas, do mal ou dos maus espíritos.


A atuação dos espíritos (Deus e os seus anjos, o mal em todas suas manifestações) acontece no âmago da pessoa humana, por essa realidade que Santo Inácio chamou de "moções espirituais". Perceptíveis, sobretudo, quando a pessoa está fazendo Exercícios Espirituais (EE), mas que também acontecem e podem ser detectadas no cotidiano da vida.


É importante esclarecer a noção de "moção espiritual", suas espécies, como atuam na pessoa humana, seus efeitos e como administrá-las ou nos comportar diante delas. São fatos, fenômenos, que ele, o leigo Inácio, como já foi dito, teve a graça de perceber acontecendo nele mesmo, inicialmente, no seu leito de convalescente, depois, quando se dedicava à oração; e mesmo, no cotidiano de sua vida.


Inácio observou que brotavam nele pensamentos que não provinham simplesmente de seu querer e liberdade. Estes pensamentos o moviam à ação, num sentido profundo da existência humana: contra Deus ou a favor de Deus. Percebeu que alguns pensamentos o levavam para Deus e para as coisas de Deus. Outros, ao contrário, o levavam a se afastar de Deus e das coisas de Deus. Uns o levavam a uma maior qualidade de vida. Outros, ao contrário, o conduziam a uma vida fugaz e enganosa.


Santo Inácio notou também que estes pensamentos deixavam uma marca afetiva no seu íntimo, no seu coração. Ora de arrependimento, de desejo de mudança, de paz, de alegria. Ele se sentia com muita fé, esperança, amor, esquecido de si mesmo e aberto para os outros, em profunda e serena paz. Em outras ocasiões, pelo contrário, percebia a si mesmo com sentimentos opostos: de falta de fé, de desesperança, sem amor, fechado em si mesmo e esquecido dos outros, perturbado.


O leigo Inácio constatava tudo isso na sua experiência. Não estava filosofando nem teorizando sobre o assunto. Somente teve a graça de notar o que estava acontecendo em si mesmo, na sua experiência. Observava apuradamente a influência destes pensamentos em sua vida e os efeitos produzidos e chegou com segurança a descobrir suas origens, sua natureza e a definir que atitudes adequadas caberiam ser tomadas diante de cada um deles.


Moções com causa precedente e moções sem causa precedente.

Estas moções espirituais geralmente são ocasionadas com base em algum pensamento, lembrança ou sentimento. Santo Inácio no seu livrinho dos EE dá o nome genérico de "causa precedente" a estes pensamentos, lembranças, sentimentos, ou qualquer acontecimento, que de alguma maneira ocasionaram as moções espirituais.


Estas "causas precedentes" podem ser utilizadas tanto pelo bom como pelo mau espírito. A mesma lembrança, o mesmo pensamento ou sentimento, pode ser base ou ocasião para uma moção do bom ou do mau espírito.

Por exemplo: a lembrança de uma marca negativa do passado pode ser causa precedente para o mau espírito dar uma moção de desesperança, de falta de fé e de desânimo na caminhada: "Eu sou ruim mesmo, veja o que já aconteceu comigo! Não tenho mais jeito". A mesma lembrança pode também, ser causa precedente, dar base ou ocasião para o bom espírito dar uma boa moção infundindo ânimo e coragem, agradecendo a Deus que me escolheu apesar destes fatos negativos do passado que me vieram à mente: "Como Deus é bom! Ele tem um amor privilegiado para comigo. Apesar de tudo que comigo já aconteceu ele me escolheu para ser mais intimamente dele! Que beleza! Vou empenhar-me na minha missão".


Ao acolher a boa moção não estou somente acolhendo a lembrança do passado, mas a interpretação dada pelo bom espírito. Ao afastar a má moção não estou reprimindo e abafando o pensamento da lembrança do acontecido, mas descartando a interpretação dada pelo mau espírito.


Com base, portanto, numa lembrança, num sentimento, e até numa palavra bíblica, como "causa precedente", diria Santo Inácio, pode brotar uma moção tanto do bom como do mau espírito. "Tanto o bom anjo quanto o mau podem consolar com causa precedente". EE 331. Será preciso então examinar o contexto da moção: os sentimentos ou o estado de paz ou de perturbação em que me encontrava quando ela se originou, sua repercussão afetiva me levando à paz e alegria profunda ou, pelo contrário, à perturbação e desassossego. Só assim poderei discerni-la se do bom ou do mau espírito.


Sem causa precedente, ou sem nenhum pensamento ou sentimento que desse origem a uma moção, somente Deus, o Senhor, pode atuar. Toda moção sem causa precedente é, portanto, sempre de Deus. "Somente Deus nosso Senhor dá consolação a uma pessoa sem causa precedente" EE 330.


Resumindo e esquematizando a noção de moções espirituais


S. Inácio, ao falar do Exame Geral de Consciência no livrinho dos EE (EE 32), pressupõe existir em nós três espécies de pensamentos.


"Pressuponho haver em mim três pensamentos, a saber:

um meu próprio, que provém simplesmente de minha liberdade e querer,
e outros dois que vêm de fora: um proveniente do bom espírito e outro do mau." (EE32)

As moções espirituais são, pois, justamente estes pensamentos que vêm de fora e nos atraem ou nos movem a agir segundo Deus (o nosso fim último) ou em oposição a ele.
Destaquemos os quatro elementos que constituem as moções:

- São pensamentos

- Que brotam ou vêm de fora

- Levam-nos a agir

- No nível da orientação profunda do homem, qualificando nossas ações como intencionadas por
Deus e para Deus ou em oposição a ele.


Numa terminologia técnica (aproveitando o pensamento do Pe. João A.Mac Dowell em: "Nota sobre as noções de "moção", "consolação" e "desolação" nos Exercícios Espirituais", em Itaici Cadernos de Espiritualidade Inaciana, 1, pág. 23-53) poderíamos dizer que as moções espirituais são pensamentos considerados no nível fenomenológico-existencial, que chamamos "espiritual". No âmbito em que as coisas são qualificadas não pelo que são abstratamente, mas como são na realidade existencial, inclusive no seu aspecto subjetivo, intencional.


As moções podem ter origem com uma "causa precedente" ou acontecerem sem "causa precedente". Com causa precedente podem ser provocadas pelo bom ou pelo mau espírito. Sem causa precedente somente por Deus!


"Consolação" e "desolação" espirituais

As moções de Deus ou do inimigo, embora sejam pensamentos que surgem na mente humana, quando acolhidas ou rejeitadas pela liberdade humana, têm uma repercussão no âmbito afetivo. Quando provenientes de Deus e seus anjos produzem no fundo da consciência, (poderíamos dizer também do coração), sentimentos profundos de paz, de alegria, de unificação da personalidade, de encontro consigo mesmo e com Deus. Porém, pelo contrário, quando originadas do inimigo, produzem sentimentos opostos, de perturbação, de tristeza, de desesperança, de intranqüilidade, de afastamento de Deus e de falta de fé. Santo Inácio designa estes sentimentos como "sentimentos espirituais", ou, já, qualificando-os, chama-os de "consolação" quando produzidos pelas boas moções e de "desolação", quando fruto das más moções.


Notemos que há níveis de maior ou menor profundidade nos sentimentos espirituais, ou nas experiências espirituais, e conseqüentemente, níveis de maior ou menor consolação ou desolação espiritual. São fenômenos no âmbito da mística, de diversas intensidades. Sempre gratuitos; não originados pura e exclusivamente da liberdade humana, mas que por ela podem ser acolhidos ou rejeitados, com resultados opostos.


Importância da atenção às moções e da correta atuação diante delas


A atenção às moções e a atuação correta diante delas é fundamental no agir da pessoa humana para garantir qualidade de vida. Uma vida humana que se desenvolvesse sem a consciência explícita da existência das moções dos bons e dos maus espíritos, embora muitas vezes tenha sido influenciada pelas mesmas, estaria fadada ao fracasso profundo no uso da sua liberdade. Ignorando a atenção aos apelos que lhe vêm de fora a pessoa humana vai construir sua vida jogando sua liberdade e querer ao encontro de projetos, fruto de suas criações intelectuais, emotivas ou imaginativas, ou fruto de propostas ideológicas. Em ambos os casos, correndo claro risco de não responder às tendências profundas de seu ser e ao caminho único de sua liberdade. A pessoa humana não seria realmente livre, pois, ou seguiria cegamente, sem discernir com sabedoria as propostas que lhe são apresentadas por outros seres humanos, os gurus da vida, ou suas próprias elucubrações intelectuais, imaginativas ou frutos de seus impulsos desordenados.
Ora, a pessoa humana é chamada a se superar a si mesma. É um ser relacionado, um ser-resposta, heterônomo.


Sua realização acontece não quando busca cegamente exclusivamente valores ou se entrega alucinadamente à procura de sensações, mas somente quando, discernindo e descartando prontamente as propostas falazes do inimigo, responde reta e generosamente à proposta de Quem, e do Único, que, gratuita e amorosamente, pode e lhe quer oferecer a vida em plenitude. Cabe, contudo, à própria pessoa perceber estes "movimentos", distingui-los se do bom ou mau espírito, acolher os do bom, repelir ou descartar os do mau espírito.

Importância dos estados de consolação e desolação para o discernimento orante.

A boa moção e a consolação verdadeira são sempre de Deus.

A má moção, a desolação e a consolação enganosa (que principia aparentemente boa, mas depois se manifesta como do mau espírito) são sempre do mau espírito.

A verdadeira consolação espiritual é sempre graça, abundância de graças, dom de Deus.

Manifesta uma significativa presença de Deus em nós.
A desolação espiritual manifesta a presença do inimigo. Nunca é provocada diretamente por Deus.

Na consolação, estando Deus mais presente em nós, somos mais influenciados por ele. Ele nos move e nos atrai, nos aconselha delicadamente para realizarmos os seus desejos, os seus planos a nosso respeito. Podemos, assim, discernir a sua vontade.

Na desolação, pelo contrário, é mais o mau espírito que nos envolve, nos aconselha, nos atrai e nos leva a realizar os seus planos a nosso respeito.

No discernimento orante, pois, quando pela oração percebemos mais intensamente a presença do bom ou do mau espírito, podemos perceber as atrações, as moções, os conselhos de um ou do outro. Vamos ficar atentos a quem nos aconselha, de onde provem o conselho ou a atração.


Se provem do bom espírito, presente abundantemente na consolação, a acolhemos, mesmo sem examinar o seu conteúdo. Pois provém do bom espírito, é de Deus que não nos engana. De Deus só pode vir coisa boa! Seria uma ofensa querer examinar o que ele está nos propondo para vermos se vale a pena. Com Deus não se regateia. Vamos segui-lo e acolhê-lo mesmo loucamente. Podemos, sim, verificar e confirmar se brotou mesmo quando da presença do bom espírito.


Se provier do mau espírito, nem examinamos o seu conteúdo, a afastamos. Do mau espírito não pode vir coisa boa. Não se conversa, não se dá atenção ao mau espírito. Descarta-se. Ele é mentiroso e está embriagadamente nos desejando o mal.


Na anotação 15ª Santo Inácio indica que o que dá os exercícios não deve induzir o exercitante mais a uma parte que a outra das possibilidades, como, por exemplo, à vida religiosa ou ao matrimônio, porque é melhor que o "mesmo Criador e Senhor se comunique à sua alma devota, abrasando-a em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor poderá servi-lo depois" (EE 15).


A missão, o papel ou a função de quem dá os exercícios não é dar conselhos ou receitas e sim ajudar para que o encontro entre o Senhor e o exercitante aconteça. Neste encontro íntimo o Senhor vai indicar ao exercitante a sua missão manifestando os seus desejos a seu respeito.
No discernimento orante, é pois, muito importante perceber de onde provêm os pensamentos, os desejos, os apelos. Se de um estado de maior ou menor consolação ou, ao contrário, de um estado de maior ou menor desolação. Não é o caso de se examinar o conteúdo, ou a proposição dos apelos ou desejos. Não estamos fazendo um discernimento racional, mas orante.



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Vamos também distinguir a verdadeira consolação espiritual da consolação meramente sensível ou de uma consolação voluntaristicamente fabricada. Hoje, com a enorme pressão exercida pelos meios de comunicação social (especialmente TV e rádio) esta tarefa se torna duplamente delicada... . "Tudo se fabrica" e esta é uma tentação de "espiritualidade barata" presente hoje até em grupos da Igreja!


Muitas pessoas são orientadas para fazerem a Revisão da Oração destacando as frases que mais tocaram, os sentimentos, os apelos e as resistências. Julgamos imprescindível relacionar os apelos com os sentimentos ou estados de consolação ou desolação. O mesmo apelo, ou a mesma proposição, dependendo da sua origem (se origina num estado de consolação ou de desolação) poderá ser do bom ou do mau espírito. Julgamos também mais inaciano procurar perceber para onde o Senhor está atraindo ou movendo, do que falar de apelos do Senhor.


Vamos discernir a vontade de Deus, que certamente é racional, embora muitas vezes não a possamos captar ou entender totalmente.


A oposição ou contrariedade entre os espíritos bom e mau.


Inácio de Loyola atentamente observando suas experiências espirituais notou que o mau espírito atrai ou move a pessoa justamente na direção oposta à que o bom espírito a está movendo ou atraindo. Se o bom espírito está atraindo a pessoa para a direção sul, o mau espírito vai atraí-la justamente para a direção norte. Se o bom espírito está movendo a pessoa para entrar na vida religiosa o mau espírito vai colocar obstáculos justamente para a realização deste desejo e atraí-la para a vida matrimonial. Há, pois, uma contradição entre o modo de agir dos espíritos.


Neste contexto podemos entender o célebre axioma inaciano: "agir contra". Trata-se de agir na direção oposta à indicada pela tentação; assim agindo, você estará indo ao encontro do Senhor. Se você é tentado e sente preguiça e corpo mole para ir a um ofício religioso, procure agir contra a tentação, na direção oposta à tentação, procurando ir logo ao ofício religioso, chegando até um pouco antes, colocando-se nos primeiros bancos e se oferecendo, se houver oportunidade, para participar mais ativamente. Certamente você sentirá uma consolação especial, você agindo contra a tentação está caminhando na direção ao encontro com o Senhor Jesus.


fonte : Jesuitas

10 de jul. de 2008

A coerência entre oração e vida

Autor: Pe. Valdo Bartolomeu de Santana

TUA VIDA FALA TÃO ALTO QUE NÃO CONSIGO OUVIR TUAS PALAVRAS”

É certo que, quanto mais limpa e comprometidamente se viva a vocação cristã, tanto mais fácil se tornará o exercício da oração àqueles que não têm capacidade para discorrer sobre os mistérios da fé. Mas, em linha de verdade, cada dificuldade afeta profundamente a todos, porque surge da própria essência da oração, concebida como amizade. Ser amigo para tornar praticável o fazer
amizade.

Nos dez primeiros capítulos da Autobiografia de Santa Teresa de Ávila, sobressai uma afirmação clara: a oração, a que se entregou, sem dúvida, com decisão, não consegue conquistar a sua vida. Pelo menos, na medida das exigências mais elementares da amizade: doação totalitária, não pactuar com a mediocridade.

A oração reduzia-se a uns tempos, mais ou menos longos, e até mais ou menos intensos, de trato amistoso com Deus. Reconhece com simplicidade que “as suas determinações e desejos – por aquele momento, digo – estavam firmes”. Determinações de ser, de corresponder ao amor com amor. Mas não tinha continuidade.


“Não bastavam determinações”para não voltar a cair quando me punha na ocasião. Conclui, com razão: “Pareciam-me ser lágrimas enganosas”. Por quê? Dá no alvo quando escreve: “todo o mal vinha de eu não cortar pela raiz as ocasiões”. Concretamente, em guardar todo o seu amor para Deus. “Com isto se remediava tudo.


” Porque andava escrava. Sobre isto não faltava luz à sua consciência. “E quão atada me via para não me determinar a dar-me de todo a Deus”. Optou pelo caminho da “maioria”: rebaixar o nível de exigências, contemporizando com os pedidos da natureza. Exprime-se assim: “Parecia-me melhor ainda andar com os demais - ... – e rezar o que estava obrigada, e vocalmente, e não ter oração mental e tanto trato com Deus.


Quando exortar os seus discípulos a darem-se incondicionalmente e com totalidade, se querem chegar à contemplação, isto é, a uma verdadeira e íntima união com Deus, apresentará o seu testemunho: “Assim, pois, filhas, se quereis que vos diga o caminho para chegar à contemplação...” empenhai-vos na reforma da vossa vida – “prática de virtudes”- , caso contrário, “eu vos asseguro e a todas as pessoas que pretendem este bem ( e bem pode ser que me engane, porque julgo por mim que o procurei vinte anos), que não chegareis à verdadeira
contemplação”. Fecha o caminho da oração quem não se conforma às exigências do amor.


Teresa de Jesus fazia oração. Muita. As monjas viam-na apartar-se “muitas vezes à solidão a rezar e ler muito”.Mas não vivia a oração. Consagrava-lhes tempos, mas não era orante. Não há motivos para continuar a descrever do que se trata e até onde chegou Teresa pelo “caminho da maioria”.


O que importa é saber que se trata de presenças não integradas na Presença. Ainda mais: presenças rivais que a dividem e põem em tensão, que não lhe deixam o coração inteiro
para o Amigo, livre para Ele.


Fala-nos de experiência de “ataduras”, “escravidão”, “cegueira”. De querer “tratar com Deus e com o mundo”. Empresa impossível, a luta titânica por “juntar estes dois contrários, tão inimigos um do outro, como são vida espiritual e contentos e gostos e passatempos sensíveis”. Com frase insuperável: “Procurava... ter oração e viver a meu bel-prazer”. Exercício de oração não sustentado pela vida. O resultado era desolador: “Nem gozava de Deus nem achava contentamento no mundo”. Uma situação assim não pode sustentar-se por muito tempo. A oração não ganha a vida.


E a vida começa a minar a oração. A corda sempre se quebra pelo lado mais fraco. E, no caso de Teresa, o lado mais fraco era a oração. E por aí se quebrou. O abandono da oração arrastou consigo toda a vida. É a altura em que a vida espiritual de Teresa atinge o nível mais baixo.


A vida é sempre o termômetro da oração que existe e da oração que falta. O abandono da oração precipita o desmoronamento espiritual de Teresa, como edifício em ruínas a que se tiram as escoras que o sustenta. Confessará humilde e assustada: “Este foi o mais terrível engano”; “julgo não ter passado perigo tão perigoso”. A sua confissão é uma advertência: que ninguém a siga por este caminho. Que ninguém abandone a oração por ruim e pecador que seja. “Deixar a oração é perder o caminho”. A vida ruim não deve levar ao abandono da oração mas à sua intensificação.


Argumento de muitos para o não orar: Amo a Deus mas não tenho tempo para orar. É como se um esposo dissesse à esposa: eu a amo, trabalho o dia todo por ti, mas não tenho tempo para escuta-la, para olha-la, para abraça-la, para estar com você...” É preciso para estar a sós com Deus.


Em uma vida de oração é necessário momentos de oração. Dar algumas
paradas com flashes de oração.

A espiritualidade do trabalho é imprescindível numa vida de oração. Faze tudo com amor é estar em comunhão com Deus.


Extraído do livro “oração, uma história de amizade”, de Maximiliano Herraz Garcia, ed. Loyola.pp 35- 42

Pensamentos sobre Nossa Senhora


(por São José Maria Escrivá)


Como gostam os homens de que Ihes recordem o seu parentesco com personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!... – Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-Lhe: Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu, só Deus! (Caminho, 496 )



De uma maneira espontânea, natural, surge em nós o desejo de conviver com a Mãe de Deus, que é também nossa mãe; de conviver com Ela como se convive com uma pessoa viva, porque sobre Ela não triunfou a morte; está em corpo e alma junto a Deus Pai, junto a seu Filho, junto ao Espírito Santo.



Para compreendermos o papel que Maria desempenha na vida cristã, para nos sentirmos atraídos por Ela, para desejar a sua amável companhia com filial afeto, não são precisas grandes especulações, embora o mistério da Maternidade divina tenha uma riqueza de conteúdo sobre a qual nunca refletiremos bastante.



A fé católica soube reconhecer em Maria um sinal privilegiado do amor de Deus. Deus chama-nos, já agora, seus amigos; a sua graça atua em nós, regenera-nos do pecado, dá-nos forças para que, entre as fraquezas próprias de quem é pó e miséria, possamos refletir de algum modo o rosto de Cristo. Não somos apenas náufragos que Deus prometeu salvar; essa salvação já atua em nós. A nossa relação com Deus não é a de um cego que anseia pela luz mas que geme entre as angústias da obscuridade; é a de um filho que se sabe amado por seu Pai.



Dessa cordialidade, dessa confiança, dessa segurança, nos fala Maria. Por isso o seu nome vai tão direito aos nossos corações. A relação de cada um de nós com a nossa própria mãe pode servir-nos de modelo e de pauta para a nossa intimidade com a Senhora do Doce Nome, Maria. Temos de amar a Deus com o mesmo coração com que amamos os nossos pais, os nossos irmãos, os outros membros da nossa família, os nossos amigos ou amigas. Não temos outro coração. E com esse mesmo coração havemos de querer a Maria.



Como se comporta um filho ou uma filha normal com a sua Mãe? De mil maneiras, mas sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio, mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena delicadeza, umas palavras expressivas...



Nas nossas relações com a nossa Mãe do Céu, existem também essas normas de piedade filial, que são modelo do nosso comportamento habitual com Ela. Muitos cristãos tornam seu o antigo costume do escapulário; ou adquirem o hábito de saudar (não são precisas palavras; o pensamento basta) as imagens de Maria que há em qualquer lar cristão ou que adornam as ruas de tantas cidades; ou dão vida a essa oração maravilhosa que é o Terço, em que a alma não se cansa de dizer sempre as mesmas coisas, como não se cansam os enamorados, e em que se aprende a reviver os momentos centrais da vida do Senhor; ou então habituam-se a dedicar à Senhora um dia da semana – precisamente este em que estamos reunidos: o sábado – oferecendo-lhe alguma pequena delicadeza e meditando mais specialmente na sua maternidade. (Cristo que passa, 142 )